Título: Campanha nos corredores bate recorde de poluição visual
Autor: Christiane Samarco, Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2005, Nacional, p. A6

A disputa pela presidência da Câmara e mais dez cargos da Mesa Diretora não só tem candidatos para todos os gostos como provocou poluição visual nunca vista nas eleições anteriores. Não há como andar pelos corredores próximos ao plenário nem nos três prédios onde ficam os gabinetes dos deputados sem esbarrar em milhares de cartazes com fotografias dos candidatos, todas com retoques de computador. Luiz Eduardo Greenhalgh, candidato oficial do PT, aparece sorridente em fotos de 1 metro por 80 centímetros. Virgílio Guimarães, o petista dissidente, fez cartazes de 2 metros para o interior da Câmara e de 30 metros para a Esplanada dos Ministérios. Severino Cavalcanti (PP-PE), que promete reajustar imediatamente os salários dos colegas deputados, de R$ 12,7 mil para R$ 21 mil, mandou fazer centenas de cartazes em tamanho natural.

Os outros dois candidatos a presidente, José Carlos Aleluia (PFL-BA) e Jair Bolsonaro (PTB-RJ), não imprimiram cartazes. "Sou mais conhecido que todos que estão aí se exibindo", gaba-se Aleluia. "Sou candidato só para falar mal do Greenhalgh", conta Bolsonaro, que acusa o petista "de defender bandidos", por ter sido advogado de presos políticos. Aleluia ainda acha que tem alguma chance de vencer, embora seu partido esteja dividido; Bolsonaro consola-se com a certeza de que terá apenas o próprio voto.

VICE

Outra disputa acirrada é para a vice-presidência da Câmara. A vaga é do PFL, que tem candidato oficial, José Thomaz Nonô (AL), mas também três dissidentes: Cesar Bandeira (MA), Robson Tuma (SP) e Mussa Demes (PI). A quarta secretaria, que cabe ao PL e controla, por exemplo, os gastos com os apartamentos funcionais, tem dois candidatos: Edmar Moreira (MG) e João Caldas (AL). Todos com cartazes nos salões e corredores da Câmara.

A primeira secretaria da Mesa é do PMDB. Até ontem Henrique Eduardo Alves (RN) era candidato único. Mas o atual primeiro-vice-presidente da Casa, Inocêncio Oliveira (PE), que acabou de trocar o PFL pelo PMDB, avisou que vai para a disputa em plenário. "O Inocêncio precisa sair da Mesa. Ele precisa conhecer o Anexo 4 (o prédio em que fica a maioria dos gabinetes)", reagiu um dos amigos de Henrique. Ele se referia ao fato de Inocência, que ocupa há 16 anos cargos na Mesa ou de líder partidário, não ter de percorrer os cerca de 800 metros até o gabinete pessoal.

Para os que se agarram a cargos na Mesa, como Inocêncio, Severino, Caldas e Moreira, os colegas já encontraram um apelido. São os "deputados-guardanapo". A explicação: numa mesa, mudam pratos e talheres, mas o guardanapo está sempre lá.