Título: Especulações sobre sucessão de João Paulo II já começaram
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2005, Vida &, p. A11

Mal João Paulo II foi internado na Clínica Agostino Gemelli, multiplicaram-se no Vaticano as especulações sobre sua sucessão. A lista dos papabili - os cardeais que teriam maiores chances de eleição no conclave - não mudou muito em relação aos nomes aventados um ano e meio atrás, numa das últimas crises de saúde do papa. Torcidas à parte, ganha força a expectativa de que, após o longo reinado do polonês Karol Wojtyla, os eleitores devam escolher outra vez um italiano. Sem contar os membros da Cúria Romana, que dificilmente teriam os votos necessários (a exceção foi Pio XII, que era secretário de Estado), a Itália terá peso na Capela Sistina, onde se elege o papa.

Os mais cotados, nessa hipótese, são os cardeais Dionigi Tettamanzi (Milão), Angelo Scola (Veneza) e Ennio Antonelli (Florença). Embora se tenha aposentado, o arcebispo emérito de Milão, Carlo Maria Martini, de 77 anos, continua no páreo. Se não conseguir os dois terços dos votos necessários para a eleição, por causa de suas idéias avançadas no campo social, com certeza terá grande influência nas urnas.

Entre os latino-americanos, destacam-se Oscar Andrés Maradiaga (Tegucigalpa), Norberto Rivera Carrera (da Cidade de México), Jorge Mario Bergoglio (Buenos Aires) e o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Cláudio Hummes. Todos com reais possibilidades, no caso de o Espírito Santo soprar no Terceiro Mundo.

Quando se levanta a hipótese de um africano, o candidato é o nigeriano Francis Arinze. Contra ele pesa o fato de ser um cardeal "curial", pois é o presidente da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos. Se a opção fosse pela Ásia, poderia ser eleito o indiano Ivan Dias, de Bombaim.

SEM FAVORITO

"Quem entra papa no conclave sai cardeal", reza um ditado que a tradição dos últimos 200 anos confirma. Exceção, neste caso, foi a escolha de Giovanni Battista Montini, o favorito para a sucessão de João XXIII. Era arcebispo de Milão e assumiu o comando da Igreja com o nome de Paulo VI.

Embora reconheçam que o estado de saúde de João Paulo II é grave, cardeais evitam falar sobre o sucessor. "A fraqueza dos pulmões do papa preocupa muito, mas vamos rezar pela sua recuperação", disse o cardeal Geraldo Majella Agnelo, arcebispo de Salvador e presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil. (CNBB), que participou de uma reunião com João Paulo II em Roma, na semana passada. É também a preocupação do cardeal d. Paulo Evaristo Arns, arcebispo emérito de São Paulo.