Título: Para CNI, alta contínua dos juros já reduz crescimento da indústria
Autor: José Ramos, Colaborou: Paula Puliti
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2005, Economia, p. B1

A indústria voltou a crescer no último trimestre de 2004, mas a alta contínua da taxa básica de juros nos últimos cinco meses já está reduzindo o ritmo de crescimento do setor. A avaliação é da Confederação Nacional da Indústria (CNI), na Sondagem Industrial, divulgada ontem pela entidade. A desaceleração atingiu apenas as grandes empresas, mas, segundo a CNI, se o processo continuar nesse ritmo, chegará também às pequenas e médias. "A economia não parou de crescer, mas o crescimento rápido está perdendo ritmo", disse o economista Renato Fonseca, coordenador do estudo. Além disso, as grandes empresas ficaram com estoques maiores que os previstos. O levantamento foi feito de 4 a 25 de janeiro de 2005, com 1.214 pequenas e médias empresas e 199 grandes empresas. Segundo Fonseca, o índice ainda contém o efeito de variações sazonais, o que dificulta uma avaliação estatística mais precisa da desaceleração.

O aumento da carga tributária e, em alguns casos, a valorização do real, também ajudaram a desacelerar o crescimento industrial, segundo o economista. O fenômeno ainda não afetou as pequenas e médias empresas, pois elas exportam pouco e têm pouco acesso ao crédito. Mas, à medida que as grandes indústrias ajustarem a produção à demanda, deverão reduzir encomendas dos pequenos fornecedores e a desaceleração se estenderá, previu Fonseca.

Mesmo assim, empresários da indústria continuam otimistas em relação ao primeiro semestre deste ano. Eles prevêem que o crescimento continuará, em ritmo mais lento, mas haverá aumento de faturamento, de empregos, de exportações e de compras de matérias-primas.

A metodologia usada pela Sondagem vai numa escala de 0 a 100 e aponta estabilidade quando está em 50. Nessa escala, a produção industrial no quarto trimestre de 2004 atingiu 57,6 pontos, ante 60,1 pontos do terceiro trimestre, o que mostra expansão da produção. Já o otimismo dos empresários para este semestre é revelado na avaliação da economia, que atingiu o nível histórico de 62,7 pontos. Segundo a CNI, nenhum setor prevê queda de faturamento.

A carga tributária elevada continua a ser a maior inimiga dos industriais e preocupa mais que o aumento de juros. Entre as grandes empresas, 73% apontaram os impostos, taxas e contribuições como o maior empecilho, ante 69% no terceiro trimestre. Em segundo lugar, vieram as altas taxas de juros, com 47% de indicações (41% no levantamento anterior).

FIESP

Os números da indústria paulista mostram uma tendência à estabilização no quarto trimestre do ano passado. "Os juros, o câmbio e os impostos praticados no País são contra o crescimento econômico. É natural haver desaceleração", disse o diretor do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof. "Os elementos nos conduzem a crer que a indústria está em processo de acomodação", completou o diretor do Departamento de Economia da Fiesp, Paulo Francini. Fiesp e Ciesp divulgam hoje o Indicador de Atividade Industrial (INA) de 2004.

A atividade industrial paulista apresentou fortes altas no primeiro semestre de 2004 principalmente porque a base de comparação (2003) era baixa. Ainda assim, segundo Tabacof, a desaceleração no último trimestre não é mero efeito estatístico. "O esfriamento da demanda provocado pela alta dos juros já bateu na produção e a ociosidade aumentou", afirmou o empresário. "Não podemos esperar crescimento econômico acima de 5% neste ano."