Título: Furlan: otimismo volta no 2.º semestre
Autor: Lu Aiko Otta
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2005, Economia, p. B3

Em meados deste ano, a indústria deverá superar o clima provocado pela alta dos juros e retomar o otimismo. A previsão foi feita ontem pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Ele não se surpreendeu com o dado divulgado ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) que mostra desaceleração no ritmo de crescimento da atividade industrial no quarto trimestre de 2004. "É natural que o aumento da taxa de juros provoque alguma contração na economia", disse. "Mas acredito que isso não comprometerá nossas expectativas de crescimento neste ano."

Furlan comparou o quadro atual da economia com o que ocorreu no início de 2004. No final de 2003, a atividade econômica iniciou uma trajetória de aquecimento, na esteira de cortes sucessivos nas taxas de juros, o que alimentou avaliações otimistas.

No entanto, a redução dos juros foi interrompida em janeiro de 2004 e, mais adiante, as taxas começaram a subir, criando nuvens no horizonte do setor produtivo. Em meados de 2004, porém, começou uma reação. O ministro acredita que o mesmo processo ocorrerá neste ano.

"Nós no Ministério do Desenvolvimento continuamos cultivando aquele otimismo regulamentar", disse. "Acho que são acidentes de percurso que estão acontecendo e a partir de meados do ano o otimismo vai voltar à plenitude."

Furlan comentou que, desde quando veio para o governo, já viu o setor produtivo passar por "momentos de grande alegria e momentos de frustração".

Na sua avaliação, o desempenho da economia em 2004 serviu para desmtificar teorias como a que não seria possível conciliar crescimento da demanda interna com exportações sem reacender a fogueira inflacionária. Ou que alguns setores estariam se aproximando da utilização total da capacidade instalada, o que levaria à falta de oferta de bens e, conseqüentemente, a maior pressão inflacionária. "Nada disso se concretizou", disse o ministro.

O ministro voltou a afirmar que a desvalorização do dólar ante o real está prejudicando alguns setores. Ele citou a soja, cujo preço no mercado internacional está caindo. Ao mesmo tempo, os produtores estão enfrentando aumento de custos de produção.

"Estamos numa situação de acomodação", disse. "Nossa perspectiva é que alguns setores estão perdendo fortemente rentabilidade e outros vão continuar no esforço exportador." Ele citou exemplos sobre como as empresas estão convivendo com um câmbio mais baixo. É o caso típico dos fabricantes de calçados.

Segundo Furlan, na Couromoda, a feira anual do setor, ficou claro que as empresas brasileiras mudaram o tipo de produto que fabricam. De exportador de calçados de US$ 15,00 o par, o Brasil passou a vender modelos de maior valor agregado, na faixa de US$ 20,00 a US$ 40,00.

Grifes famosas no exterior estão transferindo parte da produção para o País, o que abre a perspectiva de vender bens com ainda mais valor agregado. O ministro citou a canadense Bata. "Minha mulher gosta, mas é caro."

Ainda de acordo com o ministro, setores que buscaram novos países para vender seus produtos estão conseguindo driblar a queda do dólar reajustando preços. Segundo ele, elevar os preços é mais difícil nos mercados tradicionais. O raciocínio, porém, não se aplica às commodities, que têm preço igual no mundo todo.