Título: BC faz novo leilão de contratos e consegue segurar queda do dólar
Autor: Sheila D'Amorim, Gustavo Freire, Silvana Rocha
Fonte: O Estado de São Paulo, 03/02/2005, Economia, p. B4

O Banco Central (BC) conseguiu estancar ontem a queda do dólar ao utilizar mais um instrumento para tentar influenciar as cotações, um leilão de contratos atrelados à variação do dólar que equivaleria à compra de quase US$ 400 milhões no mercado à vista. De manhã, o dólar chegou a subir 0,92%, mas durante o dia a alta foi sendo reduzida e a moeda fechou com valorização de 0,19%, em R$ 2,614. O forte fluxo de entrada de dólares no País, segundo operadores, fez a moeda americana devolver parte da alta contabilizada pela manhã.

No novo instrumento de política monetária - que são contratos de swap cambial -, o BC se compromete a pagar aos detentores desses contratos a variação dos juros no período, recebendo em troca o equivalente à oscilação do câmbio.

O resultado da primeira operação realizada ontem mostrou que houve muita demanda. O BC vendeu o lote integral ofertado de 8 mil contratos de swap cambial com quatro vencimentos diferentes. O valor financeiro somou US$ 387,8 milhões.

Até ontem, o BC só tinha usado esse tipo de contrato na direção oposta. Normalmente, os swaps cambiais eram úteis para abastecer o mercado com um ativo vinculado à variação do dólar, evitando desvalorizações fortes do real em momentos de tensão ou de demanda por proteção. Nesse caso, o BC se comprometia a pagar aos investidores a variação do dólar e recebia em troca a variação dos juros. Se, ao longo da vigência do contrato, o real se desvalorizasse mais que a oscilação da taxa de juros, o BC perdia. Na situação inversa, ele lucrava com a operação.

Agora, ele está invertendo os papéis. Como a procura por proteção cambial não é tão grande e, ao contrário, o fluxo de recursos para o País e as apostas de que eles se intensificarão puxam a cotação para baixo, a cotação da moeda estrangeira está em queda.

Apesar de o câmbio ser flutuante e, portanto, teoricamente, o BC não precisar intervir para manter determinada taxa, não é desejável para autoridade monetária também que o real se aprecie muito fortemente. Isso poderá gerar uma forte oscilação ao menor sinal de turbulência ou complicação externa, fazendo o dólar disparar de repente, afetando de forma brusca a inflação.

Em vez de simplesmente comprar dólares no mercado para fazer a cotação subir, o que aumentaria a quantidade de reais disponíveis na economia e obrigaria o governo a emitir mais títulos públicos para regular esse volume de recursos no mercado, o BC optou por fazer isso via contratos de swap. Com isso, ele paga ou recebe não o valor integral do contrato, mas apenas a diferença entre a variação do câmbio e a da taxa de juros.

A atuação do governo no câmbio vem sendo bem recebida por especialistas. O governo deve, sim, atuar para evitar uma valorização excessiva da moeda brasileira em relação ao dólar diante "da abundância cambial" atual, disse ao Estado o sócio da Fidúcia e ex-presidente do Banco Central (BC), Gustavo Franco, cuja imagem se associou à do real forte do primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso.

"A oportunidade é muito boa para acumular reservas internacionais e amortizar dívida externa", disse Franco, que considera a entrada de capital atual parecida, mas com escala menor, às de 1994 a 1996, quando era diretor de Assuntos Internacionais do BC. "Naquela época, eu passava boa parte do tempo em leilões de compra de câmbio."

Ele acha que os leilões semanais que o Banco Central iniciou ontem de swaps cambiais devem ser instrumentos complementares e paralelos à compra de dólares e redução da dívida externa.

Além desses, sugere outras outras medidas, como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) na entrada de capital estrangeiro e as opções cambiais, em que a moeda americana pode ser efetivamente comprada, cuja alíquota hoje é zero.