Título: Depois das vaias, Lula pede a ministros vitrine para área social
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2005, Nacional, p. A4

Em reunião sigilosa realizada quarta-feira à noite, na Granja do Torto, com ministros que participaram do Fórum Social Mundial, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a mostrar preocupação com a falta de visibilidade das ações sociais do governo. Lula disse que o combate à fome e a geração de emprego continuam sendo suas obsessões, mas acha que muitas vezes o esforço não é compreendido nem por seus pares do PT. A idéia do Planalto, agora, é integrar as ações sociais, para efeito de comunicação externa, em quatro grandes eixos: crescimento, inclusão social, emprego e democracia.

Seis dias depois de ser vaiado no Fórum Social por ex-companheiros radicais do PSTU e do PSOL - partidos formados por dissidentes do PT -, o presidente chamou os ministros para um jantar no Torto com o objetivo de avaliar como foi o desempenho do governo no encontro que reuniu a esquerda mundial, de 26 a 31 de janeiro, em Porto Alegre. Na prática, ele tem-se mostrado ansioso com o distanciamento do PT e do governo em relação aos movimentos sociais e quer mostrar resultados mais rápidos.

Não é à toa que em todos os seus discursos, nos últimos dias, o presidente tem destacado os investimentos sociais do governo e dito que só agora - depois de administrar a herança de "máquina ineficiente" e fazer o ajuste fiscal - começa o "segundo tempo" de sua gestão.

VISIBILIDADE

"Há muito tempo existe a preocupação de garantir mais visibilidade às ações sociais do governo. O presidente tem reclamado, diz que muita coisa não aparece na imprensa e que há iniciativas dispersas por vários ministérios", contou um ministro ao Estado.

A operação para integrar essas iniciativas será desencadeada por meio de um planejamento geral da Secretaria de Comunicação do Governo (Secom). O Planalto pretende exibir o que chama de "outra face" das políticas de inclusão social e há campanhas publicitárias no forno. "Vamos informar que, além de trabalhar com políticas de transferência de renda, o governo também tem portas de saída. O microcrédito e o programa nacional de agricultura familiar, por exemplo, são algumas delas", afirmou Marcus Flora, secretário-executivo da Secom.

Na reunião de ontem, o presidente ouviu bastante os ministros. Estavam lá Olívio Dutra (Cidades), Luiz Dulci (Secretaria-Geral da Presidência), Miguel Rossetto (Desenvolvimento Agrário), Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), Gilberto Gil (Cultura), Marina Silva (Meio Ambiente), além dos assessores especiais César Alvarez e Marco Aurélio Garcia.

Rossetto saiu do jantar no Torto e viajou para o 1.º Fórum Internacional Dakar Agrícola 2005, realizado na capital do Senegal. Levou a tiracolo uma mensagem gravada de Lula para o encontro, que teve o objetivo de debater o papel da agricultura para o desenvolvimento dos países subdesenvolvidos e contou com a presença do presidente da França, Jacques Chirac, e do prêmio Nobel de economia Joseph Stiglitz.

Ao fazer um balanço da participação do governo no Fórum Social, ainda em Porto Alegre, Dulci afirmou que Lula saiu da capital gaúcha muito satisfeito, apesar do protesto de grupos radicais. "Ele foi bem recebido pela maioria e, como era previsível, enfrentou a hostilidade de pequenos partidos de oposição que aproveitaram a oportunidade para fazer sua luta política", amenizou o secretário-geral da Presidência.

Dulci também rebateu críticas de participantes do encontro, que chamaram a quinta edição do fórum de "chapa branca" por causa da "infiltração" de ministros, assessores, dirigentes petistas e de estatais em todos os eixos de discussão. "O fórum se consolidou muito como espaço de discussão social", argumentou Dulci. "E, como nossa participação foi a convite, isso significa que os movimentos sociais consideram nossas experiências bem-sucedidas."