Título: Um trem da alegria entre Brasil e Cuba
Autor: Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 04/02/2005, Nacional, p. A5

O governo brasileiro negocia com Cuba um acordo para validar os diplomas dos brasileiros que foram estudar medicina naquele país e se formam neste semestre. Em julho chegarão de volta ao Brasil os primeiros 40 médicos brasileiros formados em Cuba. Na bagagem trazem, além do diploma, um problema para o governo petista. Selecionados para as bolsas oferecidas por Cuba pelo próprio PT e por aliados como o PC do B, os jovens não podem exercer a medicina no Brasil sem um projeto de validação dos diplomas - que agora o governo federal tenta negociar a toque de caixa e sob pressão dos partidos, para não estragar o acordo com o país de Fidel Castro. O ministro da Educação, Tarso Genro, em visita a Cuba na semana passada, levou como um dos temas o problema da validação dos diplomas. Tarso admite que a situação é urgente.

"É um problema que já vínhamos negociando mas está muito pressionado agora, pela iminência da formatura dos primeiros jovens que foram para Cuba" disse o ministro ao Estado. Os jovens médicos estudam com bolsas do governo cubano na Escola Latino-Americana de Medicina (Elam), um projeto que foi criado por Fidel em 1999 e recebe jovens de toda a América Latina.

A pressa do governo seria não apenas porque os jovens estão se formando agora, mas porque sua formação interessa ao Brasil, de acordo com o ministro. "São jovens formados na escola de medicina social de Cuba, preparados para trabalhar como médicos de família e em programas como o Projeto Rondon", explicou Tarso Genro, que teve um encontro em Havana com os primeiros 40 formandos. "Eles vieram se oferecer para participar do Projeto Rondon. Expliquei que precisávamos observar as medidas legais."

O problema dos médicos formados no exterior não é apenas com Cuba. Há alguns anos brasileiros formados na Bolívia tentam resolver o problema da validação de seus diplomas, mas até hoje não houve solução. O atual sistema prevê que os formados no exterior façam uma prova aplicada por universidades federais credenciadas. Em muitos casos, as instituições terminam por exigir que o candidato refaça diversas disciplinas do curso para que seu diploma seja aceito no Brasil.

O problema é o mesmo para Cuba e para os demais países. No entanto, o caso cubano está sendo tratado como especial pelo governo Lula. Um grupo interministerial foi criado para analisar a situação depois que o governo brasileiro assinou um protocolo de intenções que prevê a validação automática desses diplomas, tanto para os brasileiros formados em Cuba quanto para médicos cubanos que venham trabalhar no Brasil - o que tem irritado o Conselho Federal de Medicina e outros conselhos das áreas de saúde.

Hoje existem algumas centenas de médicos cubanos trabalhando no Brasil. Na maior parte dos casos em cidades do interior, onde prefeitos desesperados para preencher suas vagas aceitam os cubanos mesmo sem a validação dos diplomas.

Tarso afirma que a regra que o governo está querendo criar para a validação de graduação e especializações seria universal, valendo para todos os países. No entanto, nesse caso específico, o governo federal está negociando diretamente com o governo cubano. "Nós enviamos uma proposta, de uma prova universal. Eles nos apresentaram uma contraproposta, que chegou ao Brasil no dia em que viajei, então não pude analisá-la. Mas eles estão propondo uma solução provisória para os primeiros alunos", explicou o ministro.