Título: Pediatra acusa Ministério da Saúde de ter feito armação
Autor: Mariângela Gallucci
Fonte: O Estado de São Paulo, 18/03/2005, NACIONAL, p. A7

Nomeada há três anos pelo prefeito Cesar Maia (PFL) para a direção do Hospital Cardoso Fontes, um dos seis sob intervenção federal há uma semana, a pediatra Maria Lúcia Newlands, de 60 anos, acusou ontem o Ministério da Saúde de promover uma "armação" ao informar que havia medicamentos vencidos estocados no almoxarifado. Segundo ela, os remédios foram interditados "por orientação da fiscalização sanitária" antes da municipalização dos hospitais, em 1999, e estariam armazenados aguardando autorização para serem incinerados. No entanto, a reportagem identificou no depósito medicamentos dentro da validade e outros vencidos com datas de fabricação posteriores à municipalização. Maria Lúcia afirmou desconhecer o fato.

A diretora não quis mostrar documentos que provem sua acusação e disse que só vai entregá-los à Polícia Federal. "Aquilo foi uma montagem, não é a verdade, é só presepada e pirotecnia", acusou.

Segundo a assessoria da Secretaria Municipal da Saúde, não existem documentos que comprovem se esses medicamentos foram adquiridos antes da municipalização dos hospitais. Para o secretário de Assistência à Saúde do ministério, Jorge Solla, a própria diretora já respondeu à questão, ao admitir que havia medicamentos vencidos guardados há mais de 5 anos.

Indagada sobre a situação caótica encontrada pelos interventores no hospital, como falta de equipamentos para cirurgias e a interdição da emergência, ela não negou. "A situação não é boa em nenhum hospital desta cidade, sejam municipais, federais ou estaduais."

Mantida no cargo por decreto federal, Maria Lúcia disse que "infelizmente" continua diretora do hospital: "Sou uma prisioneira. Não posso sair por força de decreto, mas não quero ficar. Cansei da brincadeira desse clubinho."

"Não sou criança, preservo meu nome e não vou ser usada, não vou admitir ser enlameada", protestou a diretora. "Tenho mais de 35 anos de profissão para acontecer isso no fim da vida? Minha equipe está sendo hostilizada e agredida."