Título: Briga entre Greenhalgh e Virgílio contamina eleição da Mesa Diretora
Autor: Christiane Samarco , João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2005, Nacional, p. A6

O espírito de competição interna que sempre caracterizou o PT produziu uma disputa inédita pela presidência da Câmara. Luiz Eduardo Greenhalgh (SP) é o candidato oficial da bancada, mas Virgílio Guimarães (MG) lançou candidatura avulsa. Esta briga acabou contaminando todos os partidos que terão cargos na Mesa Diretora. Há 17 candidatos para os 7 cargos e novas candidaturas podem ser registradas até o dia da eleição, 14. "Tem briga para 500 anos na Câmara", diz o ministro da Ciência e Tecnologia, deputado Eduardo Campos (PSB-PE), sobre disputas até dentro dos partidos. Só para presidente da Casa há mais três candidatos: Severino Cavalcanti (PP-PE) e os pefelistas José Carlos Aleluia (BA) e Jair Bolsonaro (RJ). Querem a primeira vice-presidência, que é do PFL, Mussa Demes (PI), Robson Tuma (SP) e José Thomaz Nonô (AL). A segunda secretaria é disputada pelos petebistas Nilton Capixaba (RO) e Romeu Queiroz (MG). E a quarta, que cabe ao PL, por Edmar Moreira (MG) e João Caldas (AL). Disputam a primeira secretaria os peemedebistas Henrique Eduardo Alves (RN) e Waldemir Moka (MS). O atual primeiro vice-presidente, Inocêncio Oliveira (PE), já disse que vai trocar o PFL pelo PMDB e quer disputar a vaga. A questão se estende para além da Mesa, já que a sucessão coincide com a troca de líderes partidárias. Para não perder votos, os candidatos a líder evitam optar entre candidatos de suas legendas, aumentando a confusão. Para Eduardo Campos, o problema é a quebra das regras do Congresso, como a da proporcionalidade na divisão dos cargos entre as bancadas. "Ou se reconstrói o balizamento criado pela história, como produto da boa convivência na democracia representativa, ou não há como o Parlamento funcionar bem." Para um articulador político de Lula, o quadro preocupa, mas em geral ajuda o Planalto, pois pior seria se a confusão estivesse restrita à disputa entre petistas. Ele acredita que agora há mais partidos interessados em resolver a crise que adversários dispostos a criar problemas para o governo. Até o líder do PP, José Janene (PR), apóia Greenhalgh. Ele já explicou as razões a seu amigo Severino Cavalcanti: "Como líder, não me interessa votar em candidato avulso, desrespeitando a proporcionalidade, que dá primazia às maiores bancadas", disse. "Se não respeito essas regras agora, amanhã indico alguém para presidir uma comissão e um grupo se reúne para derrubar meu indicado e eleger quem quiser." Acusado de iniciar a confusão, por conta de Virgílio, o PT se defende. "Sem dúvida vivemos a situação mais grave, de ter candidato avulso a presidente", admite o líder Arlindo Chinaglia. "Quebrou-se a regra, é verdade, mas isto foi fruto muito mais do comportamento individual do avulso que da dinâmica da bancada, que fechou com o candidato oficial."