Título: Disputa é por um poder quase i
Autor: Christiane Samarco , João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2005, Nacional, p. A6

Em 2003, PFL, PSDB e PDT entregaram ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), pedido de instalação de uma comissão parlamentar de inquérito (CPI) para investigar a influência no governo do ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz. Era a conclusão lógica de um dos maiores - senão o maior - escândalo do atual governo. Waldomiro aparecera numa fita de vídeo, na qual pedia propina para candidatos petistas e para si ao empresário do jogo Carlos Ramos, o Carlinhos Cachoeira. Sarney recebeu o documento e deu um despacho seco, mandando-o para o arquivo. Exerceu o poder de presidente do Senado. Em 1989, uma CPI encarregada de investigar acusações de corrupção no governo de José Sarney, tendo entre seus integrantes o então senador Itamar Franco, entregou ao então presidente da Câmara, Inocêncio Oliveira (PFL-PE), pedido de abertura de um processo de impeachment do presidente da República. Inocêncio nem analisou a papelada. Despachou-a para o arquivo. Com o poder na mão, 14 anos antes evitou os naturais aborrecimentos que o processo acarretaria para Sarney, justamente como fez o hoje presidente do Senado para ajudar o presidente Lula. Desde que se iniciou a briga pela presidência da Câmara, com o envolvimento de cinco candidatos, dois deles do PT, um assunto até então de limitado interesse público começou a chamar a atenção. E muitos perguntam por que uma disputa interna que se repete a cada dois anos desperta tanta paixão e disputa e chegou a provocar uma crise no PT, o partido ora no governo? A resposta está na Constituição e nos regimentos internos da Câmara e do Senado, que dão a esses cargos de direção um poder quase imperial. O presidente da Câmara é o segundo na ordem de sucessão do presidente da República, atrás apenas do vice-presidente; o presidente do Senado, o terceiro. Isso sem ter passado pelo desgastante e difícil processo da eleição presidencial, que elege só um pretendente. Em 2002, enquanto o candidato Luiz Inácio Lula da Silva percorria todo o País atrás de votos, em dois turnos, o atual presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), corria apenas São Paulo. Lula conseguiu cerca de 52,4 milhões de votos. João Paulo foi eleito com 196.945 votos. Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), candidato oficial à sucessão de João Paulo, teve 147.819 votos. VANTAGENS O que atrai um parlamentar para as presidências da Câmara e do Senado, porém, não é apenas a possibilidade de suceder o presidente da República. Em 2005, a Câmara terá um orçamento de R$ 2,47 bilhões, com cerca de 10 mil servidores. O Senado terá R$ 2,43 bilhões, com 5 mil funcionários. De acordo com a Constituição, compete exclusivamente ao presidente do Senado convocar o Congresso em caso de decretação de estado de defesa ou de intervenção federal e de pedido para a autorização de estado de sítio. Os presidentes da Câmara e do Senado dispõem ainda de uma equipe de mais de 40 assessores de alta especialização, de vôos em aviões da Força Aérea Brasileira, de gastos ilimitados com telefones, fax, impressos, da prerrogativa de admitir e demitir funcionários, de organizar a pauta de votações e, claro, nomear apadrinhados.