Título: Nenhum partido escapa da ação invasiva do Planalto
Autor: Christiane Samarco , João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2005, Nacional, p. A6

Desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o governo, em 2003, ocorre no País uma das mais bem-sucedidas políticas de intervenção partidária já feitas. Todos os partidos sofreram influência direta do Palácio do Planalto. Perderam ou ganharam parlamentares, sempre sob a orientação direta do Executivo. Um ministro do núcleo central do governo reconhece o ataque. "No modelo presidencialista brasileiro, em que nenhum partido tem maioria, não há espaço para falar em ética. É preciso governar." Até na oposição o governo fez ação predatória: em cima do PFL, PSDB e PDT, engordando as bancadas de partidos governistas. O PFL elegeu 84 deputados; hoje tem 62. O PSDB mandou 70 para a Câmara; está com 52. O PDT, que elegeu 21, tem 14. O PMDB passa por situação curiosa. Sob domínio do Planalto, que tem a maioria da bancada, sofre crise interna e reação comandada pelo ex-governador Anthony Garotinho. Só na última semana ele conseguiu filiar 7 deputados, fazendo a bancada na Câmara de 77 subir para 84. Um deles é Inocêncio Oliveira (PE), presente no PFL desde a fundação e eleição de Tancredo Neves à Presidência. Com mais seis, alcança o PT, que tem 90. Em compensação, afora o PT, os partidos da base aliada incharam. PTB e PL, que em 2002 elegeram 26 deputados cada, têm agora, respectivamente, 48 e 46. O PT prepara contragolpe. Caso o PMDB chegue a 90, o partido reagirá. Já tem 15 parlamentares prontos para engrossar sua bancada logo depois da eleição para a presidência da Câmara. Ficaria, assim, com 105 parlamentares, o que lhe garante domínio das comissões mais importantes - do Orçamento e de Constituição e Justiça. E o direito de nomear ou o presidente ou o relator de todas as CPIs. A ação petista ameaça a sobrevivência do PFL. Depois que o presidente Lula convidou a senadora Roseana Sarney (MA) para um ministério - qualquer um -, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), viu-se obrigado a tomar atitude radical. Negou a licença para Roseana. "Se eu a conceder, haverá uma debandada, porque o governo vai atacar." "A intervenção do Planalto e do PT é absurda, inaceitável, e não é de hoje que isso vem ocorrendo. Meus problemas com este governo começaram aí. Quiseram fazer com o PPS o que o Zé Dirceu fez com o PTB", acusa o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE). "O Ciro (ministro Ciro Gomes, da Integração) e o João Herrmann (ex-líder do PPS, hoje no PDT) imaginaram que nosso partido poderia ser hospedeiro do adesismo, inchando-o com mais 25 deputados", continua Freire. O líder do PT na Câmara, Arlindo Chinaglia (SP), contesta Freire e todos os que acusam o governo de avançar sobre os partidos. Para ele, a forma como o governo age não fragiliza o quadro partidário. "Ao contrário, indica a fragilidade dos partidos e isso era preexistente. Às vezes o emagrecimento de uma legenda ocorre porque houve antes uma engorda artificial." Para o líder do PFL, José Carlos Aleluia (BA), o que ocorre hoje na relação Planalto e partidos "é uma deformação". "Esse governo é especialista em deformação. Não trabalha pela reforma, deforma. Apóia-se no fisiologismo, na tentativa de acabar com a oposição", diz. (J. D. e C. D.)