Título: Lula quer novo time de negociadores na Câmara
Autor: Christiane Samarco , João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2005, Nacional, p. A6

O xadrez político da reforma ministerial que será feita na segunda quinzena deste mês inclui a renovação do time de petistas que negociam os interesses do governo na Câmara. De acordo com um dirigente do PT que constantemente conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o chefe gostaria de trocar os articuladores governistas vinculados ao grupo do atual presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), mas sabe que a mudança passa pela sucessão na Casa. Em conversas reservadas, o próprio presidente já admitiu que a mudança mais ampla só será possível caso o candidato oficial do PT à presidência da Casa, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), vença o dissidente petista Virgílio Guimarães (MG). Virgílio é identificado no Planalto como o candidato que representa o grupo de João Paulo. Por isso, se ele vencer, reforçará os que defendem a permanência do líder do governo, Professor Luizinho (PT-SP), e dará fôlego à eleição de Paulo Rocha (PT-PA) para liderar a bancada petista. Ambos são muito ligados a João Paulo. Greenhalgh não era a primeira opção de Lula, mas acabou convertido em candidato do governo porque o até então preferido, Arlindo Chinaglia (SP), foi derrotado na disputa na bancada, por 40 votos a 2. Um ministro conta que Lula ficou com Greenhalgh, apesar de sua forte ligação pessoal com Virgílio, porque avalia que o melhor para o governo é se afastar um pouco do grupo que tem a participação do deputado mineiro e de João Paulo. Para reforçar a desconfiança que acompanhava o presidente, Virgílio fez um pacto com o ex-governador Anthony Garotinho, presidente do PMDB do Rio. Isso levou Lula a determinar ao presidente do PT, José Genoino, que puna de alguma forma o dissidente. Mas o Planalto comemorou o que considera um erro de Virgílio. Ao se aproximar de Garotinho, faz o PFL ligado ao prefeito do Rio, Cesar Maia, dar apoio a Greenhalgh. O PSDB também pretende fazer o mesmo. Assim, a candidatura oficial vai se fortalecer justamente com a ajuda de dois partidos de oposição. CORPORATIVA O ministro diz que prevalece no Planalto a avaliação de que João Paulo fez uma administração "corporativa", muito voltada para os interesses políticos de seu grupo. Por isso mesmo, setores do governo trabalham para que Rocha não seja eleito líder do PT. Depois que o deputado Jorge Bittar (PT-RJ) recusou o convite de Lula para assumir a diretoria-geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), seu nome passou a ser lembrado por petistas do Congresso e do governo como alternativa com densidade e preparo para a liderança partidária. O interlocutor presidencial destaca que, na avaliação de Lula, o líder Professor Luizinho é um bom operador, mas peca pelo estilo "trator". Nesta segunda metade do governo, o presidente gostaria de ter um líder mais formulador, que atuasse mais no convencimento do que confronto. Enquadram-se nesse perfil o atual líder do PT, Arlindo Chinaglia (SP), e o vice-líder do governo Sigmaringa Seixas (DF). A força de Chinaglia está no bom relacionamento com o colégio de líderes aliados e de oposição ao governo. Sigmaringa, que pertence ao Campo Majoritário, circula bem dentro e fora da bancada do PT e tem bom diálogo com os líderes da oposição, especialmente os tucanos, uma vez que já foi filiado ao PSDB.