Título: Uma nova visão sobre os povos da Amazônia
Autor: Evanildo da Silveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 06/02/2005, Vida &, p. A16

O solo pobre, próprio das florestas tropicais, sempre foi tido por muitos pesquisadores como um empecilho para que a Amazônia tivesse tido grandes populações no passado, como as que viveram na América Central e nos Andes, por exemplo. Pesquisas e descobertas recentes, no entanto, estão mudando essa visão. Elas mostram que muitos povos se organizaram e formaram grandes populações. Os vestígios arqueológicos que apontam nessa direção começam a se avolumar. No livro Geoglifos da Amazônia - Perspectiva Aérea, Alceu Ranzi e Rodrigo Aguiar lembram que escavações no Peru e na Bolívia têm revelado quantidade enorme de cerâmica, muito maior do que se esperaria de sociedades simples.

Em toda a Amazônia, inclusive a brasileira, estão sendo descobertas diversas estruturas de engenharia, como largas estradas, terraplenagens, aterros e canais para drenagem, além dos recentes geoglifos. "Tudo isso requer a mobilização de grande número de pessoas, organizadas sob rigorosas normas de trabalho, características de sociedades que já atingiram o estágio de civilização", diz Aguiar. "O desaparecimento posterior desses grandes núcleos populacionais pode estar ligado à conquista européia e a doenças."

Outras descobertas em toda a América do Sul, como artefatos de 10 mil a 12 mil anos atrás, mostram que o povoamento do continente pode ter ocorrido muito antes do que se pensava até recentemente. "A Amazônia, então, em vez de pequenos grupos vivendo em sociedades simples, pode ter sido, na verdade, densamente povoada por grupos que estariam mais próximos do estágio de civilização", escrevem Ranzi e Aguiar.

Quanto aos geoglifos do Acre, eles defendem que duas pesquisas devem ser feitas simultaneamente: "Escavações arqueológicas para identificação dos horizontes culturais antigos e investigações etnográficas entre indígenas atuais, na tentativa de identificar vínculos culturais com os grupos pré-históricos e etno-históricos".