Título: Quórum elevado pode prejudicar Greenhalgh
Autor: João Domingos
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2005, Nacional, p. A4

Preocupados com as dissidências na base de apoio ao Palácio do Planalto, os líderes dos partidos aliados trabalham com a hipótese de esvaziar a sessão de votação que vai escolher o novo presidente da Câmara, daqui a uma semana. A estratégia é tentar retirar do plenário os deputados da base, mas que não votam no candidato oficial do PT à presidência da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP). Um dos coordenadores da campanha do petista espera que o quórum, no dia da eleição, fique abaixo dos 500 deputados (ao todo, são 513 deputados). "Estão trabalhando duro para eleger o Greenhalgh. Não me surpreenderei se a tática eleitoral for tirar os deputados que não são fiéis e aqueles sobre os quais há dúvidas quanto ao voto", disse o líder do PFL e candidato à presidência da Câmara, José Carlos Aleluia (BA). Os aliados estão empenhados em eleger o candidato oficial do PT em primeiro turno. Temem que, em um eventual segundo turno, as chances de Greenhalgh fiquem menores, uma vez que os deputados que não tiveram seus pleitos atendidos pelo governo poderão aproveitar a oportunidade para se vingar do Planalto.

Além disso, a base está confusa porque, na prática, há dois candidatos do PT: Greenhalgh, que é o oficial, e o deputado Virgílio Guimarães (MG), que se lançou na disputa pela presidência da Câmara à revelia do PT. "Esse é um problema que o PT não resolveu até hoje", observou o líder do PSDB, Custódio Matos (MG).

Segundo ele, a tendência da bancada tucana é apoiar o candidato oficial do PT. "Vamos nos reunir no dia 14, mas a nossa posição é respeitar o preceito da proporcionalidade e o PT, como maior partido da Câmara, indica o candidato à presidência da Casa", argumentou o tucano.

DESISTÊNCIA

O senador Aloísio Mercadante (PT-SP) acredita que Virgílio Guimarães deve retirar sua candidatura até a próxima segunda-feira. "A escolha de Greenhalgh foi resultado de um processo legítimo e democrático dentro da bancada, com adesão quase total dos parlamentares e isso deverá prevalecer", afirmou o senador ontem no Recife, onde passa o carnaval.

Também no Recife, o ministro da Saúde, Humberto Costa, defende a punição de Virgílio, caso ele continue no páreo. "Sua atitude é arriscada", afirmou, argumentando que Virgílio "se isolou muito" no partido ao não aceitar a escolha de Greenhalgh e ao procurar apoio de outras legendas.

Mesmo com o apoio de parte da oposição, os líderes aliados estão cautelosos em relação à eleição de Greenhalgh. Eles apostam que a votação para eleger o sucessor do atual presidente João Paulo Cunha (PT-SP) será o momento propício para as traições dos parlamentares.

Como a votação é secreta, os líderes não terão como controlar os votos de seus deputados. Para ser eleito no primeiro turno, Greenhalgh precisará dos votos da maioria dos presentes mais um. Ou seja: se forem computados, por exemplo, 500 votos válidos, o petista é eleito com 251 votos. Desde 1971, todos os candidatos oficiais que disputaram a presidência foram eleitos em primeiro turno.