Título: G-20 pode vender 40% mais com acordo na OMC
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2005, Economia, p. B3

Os países que formam parte do G-20, grupo de economias emergentes criado pelo Brasil, Índia e China, poderiam ter um incremento de até 40% em suas exportações agrícolas, caso as negociações na Organização Mundial do Comércio (OMC) resultassem de fato numa queda ambiciosa das tarifas de importação no setor de alimentos. A avaliação foi feita pela ONU, e será com esses ganhos em mente que os diplomatas do Brasil participam a partir de hoje, em Genebra, da primeira etapa das reuniões na OMC para a liberalização da agricultura em 2005. A retomada do diálogo ocorre pouco depois do encontro em Davos, na Suíça. Agora, o desafio é garantir avanços para a próxima conferência ministerial da OMC em Hong Kong, no final do ano. "Precisamos traduzir essa vontade política em iniciativas concretas", afirma o embaixador brasileiro Clodoaldo Hugueney.

Baseado numa fórmula matemática elaborada pela FAO (Organização da ONU para a Agricultura) e pela Conferência da ONU para o Desenvolvimento e Comércio (Unctad), o estudo indica que o G-20 seria responsável por metade do aumento mundial nas exportações agrícolas a partir da abertura de mercados, embora a liberalização aumentasse o preço dos alimentos nestes países.

Juntos, os consumidores brasileiros, argentinos ou sul-africanos teriam perdas de até US$ 8 bilhões com a elevação dos preços. Mesmo assim, o resultado final para a economia dos países do G-20 seria positivo, já que os ganhos obtidos pelos produtores, US$ 11,1 bilhões, seriam superiores às perdas para os consumidores.

Uma situação inversa é identificada na protecionista Europa, onde os consumidores ganharão com a abertura de mercados e o acesso a produtos mais baratos. As estimativas apontam que os consumidores teriam ganhos de até US$ 21 bilhões, contra prejuízos dos produtores de US$ 20,7 bilhões. Nos EUA, os produtores ganhariam US$ 6,4 bilhões.

Nesta semana, em Genebra, a questão do acesso a mercado será reiniciada e o objetivo do Brasil é que a reunião ministerial em Hong Kong aprove fórmulas sobre como reduzir as tarifas de importação. Antes de passar a debater os números dessas fórmulas, porém, a OMC estuda como transformar as atuais restrições de volumes de importação, ainda em vigor em muitos países, em tarifas. Segundo Hugueney, ao contrário do setor industrial, a agricultura ainda não se beneficia de uma transparência nas tarifas que são aplicadas.

Outro tema que será debatido a partir desta semana será como criar uma fórmula para regulamentar a queda dos subsídios domésticos. O Brasil, ao lado do G-20, apresenta uma proposta de classificar os países em quatro categorias. A primeira seria para os europeus, que seriam obrigados a realizar cortes mais profundos, já que são os maiores responsáveis pelo volume de subsídios internos. No segundo nível estariam EUA e Japão. Já o terceiro patamar seria o dos países do G-10, grupo de economias relativamente menores e com altos níveis de subsídios, como Suíça, Noruega e Taiwan. A última categoria seria a dos países emergentes, que seriam menos exigidos nos cortes. Em março, o G-20 realizará uma reunião ministerial na Índia com o objetivo de formular sua "plataforma negociadora" para 2005.