Título: Minério com preço recorde
Autor: Beth Moreira
Fonte: O Estado de São Paulo, 07/02/2005, Economia, p. B8

Depois de registrar um aumento de 12,6% em 2004, alcançando um volume de 591 milhões de toneladas (estimativa), o mercado transoceânico de minério de ferro deve continuar crescendo em 2005. Esta tendência ajuda a manter em patamares elevados os índices de reajuste, que estão sendo negociados desde dezembro entre mineradoras e siderúrgicas. Os preços do insumo são fixados em bases anuais, mesmo para contratos superiores a um ano. Tradicionalmente, as negociações iniciam-se em novembro e se encerram em janeiro, mas caso um acordo não seja fechado até o fim de março, continuam a vigorar os preços vigentes nos contratos do ano anterior. Nesse caso, as negociações são mantidas e assim que for definido um preço, a diferença é acertada, seja para o vendedor ou para o comprador.

Executivos próximos às negociações informam que o índice médio de reajuste apresentado pelas mineradoras na mesa de negociação é da ordem de 50% - o mais alto já negociado pelo setor. A última vez que as mineradoras conseguiram elevar seus preços acima de 20% foi durante a década de 70. A aposta, no entanto, é de que o repasse efetivo fique ao redor de 35%.

A maior produtora e exportadora mundial de minério de ferro do mundo, a Companhia Vale do Rio Doce, saiu na frente: está pedindo reajuste de 90% no preço do insumo nos contratos internacionais. A empresa está em plena negociação com as siderúrgicas japonesas para os preços do próximo ano fiscal, que começa em abril. O presidente da companhia, Roger Agnelli, costuma lembrar do forte aumento de outros insumos siderúrgicos importantes, como o carvão, por exemplo, cujo preço foi reajustado em 120% em janeiro.

DEMANDA MAIOR

Também tem pesado nas negociações o fato de a demanda ser muito maior do que a capacidade de entrega do produto pelas mineradoras. A estimativa do mercado é de que para as pelotas, um dos produtos de maior valor agregado, por exemplo, a demanda chegue a ser entre 15% e 20% maior que a oferta. O cálculo é feito em cima dos pedidos que não estão sendo atendidos pelas mineradoras, por conta da falta do produto. A previsão é de que o mercado de minério só vai se estabilizar no início de 2007.

A China continua tendo papel de peso nesse cenário. No ano passado, as importações de minério de ferro do país totalizaram 208,9 milhões de toneladas, o que representa um aumento de 41,15% em relação às 148 milhões de toneladas importadas em 2003. A expectativa para 2005 é de que as importações chinesas do insumo cresçam em torno de 60 milhões de toneladas.

Outro fator que tem dado força às mineradoras são os recentes e fortes reajustes praticados pelas siderúrgicas, próximos a 100% em dólar no ano passado, em função da forte demanda. "O fato de as siderúrgicas estarem conseguindo repassar os aumentos abre uma janela também para um aumento forte por parte dos fornecedores", afirma um executivo do setor.

Os analistas que iniciaram suas projeções com estimativas de aumento entre 20% e 25% já começam a rever seus números. O banco UBS elevou nesta semana em 16% sua estimativa de alta no preço de contratos de minério de ferro importados pelo Japão a partir de 1.º de abril (início do ano fiscal de 2005), de US$ 44,00 para US$ 51,00 por tonelada.

A nova projeção representa ganho de 38% em relação aos preços praticados no ano fiscal anterior para o país, de US$ 37,00 a tonelada. Seja de 30%, 40% ou mesmo 90%, porcentuais de reajuste nesses níveis não têm paralelo na história do setor.