Título: MST acusa ex-líder por morte de policial
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2005, Nacional, p. A4

A direção do Movimento dos Sem-Terra (MST) em Pernambuco divulgou nota ontem lamentando o assassinato de um soldado da Polícia Militar no assentamento Bananeira, no município de Quipapá, a 200 quilômetros do Recife. "Não foram os trabalhadores assentados que seqüestraram e assassinaram o policial, mas um grupo que utilizava o assentamento como base para suas articulações", informa, destacando que os policiais estavam à paisana, num carro sem identificação da PM. Na nota, o MST culpa José Ricardo Rodrigues - ex-líder do movimento na região e pivô do caso, pois estava sendo perseguido pelos PMs, no sábado, e se escondeu no assentamento, onde houve confronto. O MST-PE reafirma que José Ricardo havia sido expulso do movimento em novembro passado, assim como seu irmão José Sérgio Rodrigues, por causa de "desvios éticos, morais e econômicos", e a expulsão fora comunicada ao Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra).

A superintendente regional do Incra, Maria de Oliveira, que está em Brasília, confirmou ter sido informada no fim do ano pelo MST-PE sobre as suspeitas e investigações do movimento em relação a José Ricardo, cuja expulsão teria sido confirmada na semana passada. Ela contou que hoje uma comissão do Incra regional vai a Quipapá, com a PM, um representante do Ministério Público e outro da direção regional do MST.

Até ontem ninguém havia sido preso. Por causa do feriadão do carnaval, o inquérito policial ainda não foi instaurado, assim como a abertura de sindicância pelo comando da PM de Pernambuco.

NÃO JUSTIFICA

O comandante do 10.º Batalhão da PM em Palmares, major Sillas Charamba, disse ontem que a defesa do MST não tem sustentação e a corporação continua à espera da identificação dos envolvidos "na atrocidade", sejam assentados ou não. Charamba frisou que os PMs se identificaram no assentamento, mostrando suas credenciais e o próprio José Ricardo disse para não matarem Luiz Pereira da Silva, pois ele era soldado da PM.

Na nota, o MST afirma que os assentados foram enganados por José Ricardo, que disse que os PMs eram "pistoleiros". As armas dos policiais foram tomadas e depois devolvidas, com exceção da munição e dos coletes à prova de bala, de acordo com a PM.

Pereira da Silva foi morto com três tiros, enquanto o sargento Cícero Jacinto da Silva foi mantido refém e torturado - de acordo com a PM - por cerca de seis horas. O terceiro soldado, Adílson Alves Aroeiras, conseguiu escapar a pé. O carro usado pelos policiais foi destruído. Charamba explicou que os policiais estavam à paisana porque faziam parte do serviço de inteligência da corporação.

José Ricardo andava ostensivamente armado e era suspeito de liderar um grupo envolvido com assaltos nas rodovias da área. O MST informou que chegou a dar queixa contra ele na delegacia de Água Preta, na Zona da Mata, por roubo de motos usadas na assistência técnica a assentamentos.