Título: Um novo e minúsculo sistema solar
Autor: Dennis Overbye
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2005, Vida &, p. A8

Os astrônomos descobriram o que dizem que pode ser um sistema solar em miniatura em formação. No mais recente exemplo da aparente fecundidade da natureza, um minúsculo objeto semelhante a uma estrela, mas pequeno demais para ser uma, parece estar circundado por um também minúsculo disco de poeira que algum dia deverá formar planetas que até poderão, talvez por um breve período, serem capazes de suportar vida, segundo as observações deste grupo de profissionais. A descoberta levanta a possibilidade de que os astrônomos logo venham a descobrir planetas de verdade e moradas habitáveis em torno de objetos que são pouco maiores que os próprios planetas.

O corpo semelhante a uma estrela, apenas cerca de 15 vezes mais maciço que o planeta Júpiter, é o menor objeto a ser encontrado com tal disco. Com uma temperatura de 3.600 graus Fahrenheit (aproximadamente 1.980ºC), é também o mais frio. Como tal, não é realmente uma estrela, mas uma estrela fracassada conhecida como anã marrom.

"É simplesmente inacreditável", disse Levin Luhman, do Harvard-Smithsonian Center for Astrophysics (Centro de Astrofísica Harvard-Smithsonian). "Um pequeno disco capaz de formar planetas em torno de um objeto, e ele próprio é suficientemente pequeno para ser um planeta", afirmou o professor.

OBSERVANDO A ANÃ

Luhman comandou uma equipe internacional de astrônomos que observou a anã marrom, conhecida como OTS 44, usando o Telescópio Espacial Spitzer. Ele está discutindo os resultados esta semana numa reunião sobre planetas extra-solares no Aspen Center for Physics (Centro de Física Aspen), no Colorado. Um documento descrevendo os resultados será publicado na The Astrophysical Journal Letters.

Na mesma reunião, o astrônomo Marc Kuchner afirmou que alguns planetas de nossa galáxia podem conter grossas camadas de diamantes em sua superfície (leia reportagem ao lado)

Geoffrey W. Marcy, da Universidade da Califórnia, Berkeley, disse que a notícia sobre o sistema solar em formação abriu uma nova possível morada para a vida, em planetas parecidos com a Terra orbitando anãs marrons.

"Embora essas 'Terras' só se aqueceriam por somente uns poucos milhões de anos", disse ele, numa mensagem por e-mail, "é interessante imaginar que a bioquímica pode palpitar valentemente durante esse breve período no qual a anã marrom está suficientemente luminosa para aquecer a Terra, mas que depois congela antes que a evolução de Darwin possa acontecer".

Este trabalho que descobriu a anã marrom dá continuidade a uma recente tendência em que astrônomos usando telescópios cada vez mais potentes têm transferido um pouco sua atenção dos objetos maiores e mais brilhantes do cosmo - explosões de supernovas, quasares e galáxias gigantescas - para prestar mais atenção nos astros menores e menos brilhantes.

Pequenos objetos opacos são em muito maior número que seus primos mais espetaculares e violentos, e é entre esses habitantes mais humildes do universo que os astrônomos devem procurar pela vida ou condições amigáveis à vida.

O Telescópio Espacial Spitzer, lançado em órbita em torno do Sol em 2003, é o quarto e mais recente dos chamados Grandes Observatórios da Nasa. Destina-se a ver radiações infravermelha ou de calor emitidas por objetos celestiais.

Procurando as menores anãs que têm tais discos, Luhman e sua equipe esperam aprender mais sobre como as anãs marrons se formam e determinar como os outros planetas podem existir ao redor desses pequenos astros.

A anã marrom descoberta pela equipe de Luhman faz parte de um agrupamento de estrelas muito jovens distantes aproximadamente 500 anos-luz da constelação de Camaleão.