Título: Sauditas enfim vão votar. Só os homens
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Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2005, Internacional, p. A11

Pela primeira vez em sua história, a Arábia Saudita realiza amanhã eleições em todo o território para a formação de Câmaras Municipais, a primeira instância de poder na qual a população estará diretamente representada. A eleição é parte de tímidas reformas democráticas, fruto da pressão dos EUA e de forte descontentamento interno, decorrente principalmente do elevado desemprego e ampla corrupção no governo. Só os homens poderão votar e ser eleitos. O país é uma monarquia absolutista e ultraconservadora, regido pela lei islâmica, a sharia. Por causa da estrita interpretação das leis religiosas pelo clero wahabita sunita - a linha dominante do islamismo no reino -, as mulheres são proibidas de exercer várias atividades, têm menos direitos que os homens e nem sequer podem viajar sem a autorização do marido ou pai.

Apesar de a novidade das eleições ter-se tornado assunto diário, os sunitas, maioria da população, não demonstraram muito entusiasmo. Em Riad, apenas 148 mil dos cerca de 400 mil homens residentes se alistaram. Mas nas áreas habitadas pela minoria xiita, discriminada há décadas pelos wahabitas, há uma grande euforia porque está será sua primeira oportunidade de participar do poder, ainda que de forma muito limitada. A eleição no Iraque entusiasmou essa minoria saudita.

Na Província do Leste, região mais rica em petróleo na Arábia Saudita, os xiitas compõem a grande maioria da população, mas são os mais pobres. Nas mesquitas, casas ou centros esportivos os líderes religiosos ou comunitários conclamaram os homens a não perder esta oportunidade.

Como os sauditas não estão acostumados a votar, os jornais publicaram todos os dias histórias curiosas. Entre elas, a da mulher que telefonou para um candidato elogiando seu visual e se oferecendo para ser sua segunda esposa, a do repórter que se candidatou para poder cobrir o registro das candidaturas e a do nutricionista dando conselhos sobre alimentação ideal na campanha.