Título: Indústria investe com cautela para ampliar capacidade de produção
Autor: Márcia De Chiara
Fonte: O Estado de São Paulo, 09/02/2005, Economia, p. B1

Sem alarde, as indústrias do País têm feito um trabalho de "formiguinha" nos últimos meses para ampliar a capacidade de produção apenas com pequenos investimentos. A simples troca da peça de uma máquina, a substituição de uma linha de produção, a melhoria do treinamento de pessoal ou até mesmo o uso de instalações de outra indústria ociosa e concorrente para fabricar mercadorias têm proporcionado ganhos de até 30% na produção. São investimentos reduzidos, de até US$ 10 milhões, dependendo do setor, que fazem a diferença. Eles contribuem para atenuar o iminente esgotamento da capacidade de produção industrial - risco que alimenta pressões inflacionárias e serve de justificativa oficial para as altas dos juros desde setembro do ano passado.

O processo de "turbinamento" pelo qual a indústria passa ocorre especialmente em setores exportadores de produtos primários de grande importância no comércio internacional como minérios, metais e celulose, cujos preços estão valorizados. Mas também ganha força entre os fabricantes de bens de consumo, como eletroeletrônicos, calçados, fraldas e até lingerie.

A Kimberly-Clark, por exemplo, investiu US$ 2 milhões em 2003 e 2004 para aumentar a velocidade das máquinas nas unidades fabris de Suzano e Eldorado do Sul (RS), que produzem fraldas, lenços de papel umedecidos e absorventes íntimos. "Começamos a turbinar as máquinas trocando peças específicas e treinando pessoal para reduzir custos e melhorar a qualidade dos produtos", conta o gerente de Inovação, Herman Wang.

No caso das fraldas, a produção de 300 peças por minuto saltou, depois dos ajustes, para 450 peças. Na média de todos os produtos, o ganho na produção variou entre 25% e 30%. No meio do caminho, diz Wang, a empresa foi surpreendida pelo aumento da demanda no segundo semestre do ano passado e aproveitou esse ganho de produtividade para atender o consumo maior. Hoje, 80% das máquinas das unidades fabris passaram por esse processo de atualização, que deve continuar este ano, diz o gerente.

A Semp Toshiba, que produz aparelhos de áudio, vídeo e computadores, iniciou em 2004 um programa de investimentos na ampliação da capacidade de produção das fábricas de Manaus (AM) e Salvador (BA). No ano passado, foram aplicados R$ 10 milhões na atualização de equipamentos de inserção automática de componentes nas placas, que são o coração dos aparelhos de áudio e vídeo.

"Com isso, quadruplicamos a velocidade de trabalho das máquinas. O ganho total de produtividade no ano passado foi de 10%", diz o presidente da Semp Toshiba S.A., Sérgio Loeb. Ele conta que foram atualizados 30 equipamentos e substituídos 2. Neste ano, o processo continua com investimentos entre R$ 15 e R$ 20 milhões para atender um crescimento da demanda entre 10% e 15%. Loeb diz que a perspectiva é, a médio prazo, substituir todos os equipamentos.

A carioca Duloren, especializada na fabricação de lingerie, conseguiu multiplicar por dez a capacidade de produção desde que fechou, na metade do ano passado, uma parceria com empresa paulistana Universo Íntimo para produzir camisolas. O diretor-presidente da Duloren, Roni Argalji, conta que enxergou a possibilidade de ampliar a linha de produtos, mas sua fábrica de Vigário Geral (RJ) estava no limite, produzindo 1 milhão de peças mensais.

PARCERIA

A solução encontrada foi uma parceria com a empresa Universo Íntimo, que já fabricava moda noite, mas não tinha uma rede de distribuição tão poderosa como a da Duloren, que reúne 22 mil clientes no País. "Não tenho espaço físico nem capital para investir na linha noite", diz Argalji.

Entre máquinas de costura, estoques e outras matérias-primas, ele teria de fazer um investimento alto para começar a produção do zero. Em menos de seis meses, já foram entregues 500 mil peças fabricadas pela Universo Íntimo com a marca Duloren, diante de uma demanda bem maior, de 700 mil unidades no período.

Já a Democrata, que produz calçados masculinos em Franca (SP), preferiu investir em novas máquinas e tecnologia para eliminar os gargalos nas próprias fábricas. No ano passado, a companhia aplicou R$ 3 milhões em máquinas de solados, injetoras e equipamentos de corte e modelagem. Desse total, R$ 500 mil foram gastos numa fábrica de amostras, conta a gerente de Marketing, Andréa Rinaldi.

Com isso, a empresa conseguiu ampliar entre 15% e 18% a produtividade nas duas unidades de Franca, que trabalham hoje usando quase 100% da capacidade instalada, e triplicar a produção de amostras.

Andréa explica que o aumento na produção do volume de amostras é fundamental para que a companhia atinja as metas de exportação, que responde atualmente por 35% da produção de 8 mil pares diários. "Temos de ter agilidade para atender novos mercados."

O que motivou, segundo ela, esses pequenos investimentos foi a ampliação do mercado doméstico e o desempenho muito favorável das exportações em 2004. Andréa diz que a meta da companhia para os próximos cinco anos é dobrar a capacidade de produção e o faturamento. Para isso, existem projetos de novas fábricas, mas, até lá, a empresa quer explorar ao máximo todo o potencial de produção disponível fazendo apenas pequenos ajustes.