Título: Para Greenhalgh, Virgílio ajuda adversários de Lula
Autor: Eugênia Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2005, Nacional, p. A7

O candidato oficial do PT à presidência da Câmara, Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), voltou ontem a fazer fortes críticas ao seu rival na disputa pela presidência da Câmara - o petista mineiro Virgílio Guimarães - por se aliar ao ex-governador do Rio Anthony Garotinho (PMDB), que vem fazendo oposição ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Os ataques foram ao vivo, em debate transmitido pela rádio CBN - o primeiro enfrentamento dos dois desde que Virgílio lançou sua candidatura à sucessão de João Paulo Cunha (PT-SP). Três dos cinco candidatos participaram do debate. Só o candidato avulso do PFL, José Carlos Aleluia (BA), garantiu que não vai aumentar salários, se for eleito. "Não é momento de pensar em dobrar o salário dos deputados", disse Aleluia.

Tanto Greenhalgh como Virgílio indicaram que, se eleitos, vão reajustar os vencimentos dos deputados, que ganham R$ 12.720 mensais. A proposta é equiparar os vencimentos aos dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), que enviaram projeto ao Congresso propondo salário de R$ 21.500.

A troca de farpas entre os dois petistas começou no terceiro bloco do debate, quando Greenhalgh subiu o tom das críticas. Ele admitiu que se encontrou duas vezes com Garotinho, mas observou que achava "estranha" a relação do ex-governador com Virgílio.

Greenhalgh argumentou que nunca permitiu que Garotinho acusasse o governo Lula de ser o inimigo número 1 do Rio e o ministro da Casa Civil, José Dirceu, de ser o inimigo número dois do Estado. Garotinho declarou guerra ao governo depois que Lula negou o pagamento da antecipação de R$ 350 milhões em royalties de petróleo para o Rio.

"Serei presidente para todos. Procuro o voto de todos os deputados de todos os Estados. Mesmo tendo discordância de como o governador se expressou sobre o governo Lula", rebateu Virgílio.

No debate, Greenhalgh enfatizou que a candidatura de Virgílio não tem apoio do PT. "Você não é candidato do PT. É um petista candidato. Você perdeu a prévia para mim; você escreveu uma carta retirando sua candidatura, desejando-me sorte e construiu sua candidatura por fora da bancada do PT", afirmou. "Você está associado do ponto de vista político com as pessoas que mais se opõem ao governo do presidente Lula e não sei como o equilíbrio federativo ou a harmonia entre os Poderes se fará com você na presidência da Câmara."

"Retirei minha candidatura na bancada do PT porque houve mudanças nas regras do jogo", rebateu Virgílio.

REAÇÃO

Durante o debate, Greenhalgh disse ainda: "Garotinho pediu para que eu verificasse a possibilidade de honrar um compromisso feito pelo governo do Estado do Rio durante a votação do Orçamento. Mas isso não foi possível." O comentário foi rebatido à tarde pela assessoria de Garotinho, que divulgou uma nota segundo a qual Greenhalgh "mentiu no debate".

De acordo com Garotinho, o petista lhe telefonou pedindo votos para a sua candidatura à sucessão de João Paulo Cunha (PT-SP). "No telefonema, Greenhalgh sugeriu que poderia facilitar a liberação de recursos que estavam sendo negociados entre o Ministério da Fazenda e a Secretaria de Finanças do Rio", afirmou o ex-governador, na nota. "Na ocasião, Garotinho afirmou que os votos do Rio não estavam à venda", completou a nota.