Título: Lula cria TV para `integrar a América do Sul¿
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2005, Nacional, p. A5

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lançou ontem a TV Brasil - canal internacional de televisão, destinado a "integrar a América do Sul" - dizendo que, para o projeto dar certo, não pode ser visto pelos outros países como "uma intromissão" de uma nação para dominar as demais. Alvo de críticas da oposição, que já acusa o governo de dirigismo da informação, Lula fez questão de frisar que esse "não é um canal de TV do governo, mas do Estado". Destacando que fazia a cerimônia ontem para prestigiar os atuais presidentes do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP), que deixam seus cargos na segunda-feira, o presidente escorregou ao criticar, de forma indireta, a baixa audiência das TVs do Senado, Câmara e Justiça. Afirmou que, se não houver cuidado em mostrar que o País não quer impor sua cultura, será um projeto "daqueles canais de TV que existem, todo mundo tem, mas ninguém assiste".

Na opinião de Lula, para que o canal - que entra no ar até o fim do ano e terá a maior parte da programação em espanhol - tenha audiência, "não basta vontade dos três Poderes ou ter dinheiro para criar um instrumento de comunicação". "É preciso saber se vamos ter competência para fazer uma programação capaz de fazer com que o nosso público-alvo assista."

Lula ressaltou: "Este não é um canal de TV do governo. Pelo contrário, é um canal de TV do Estado, do Brasil. É o instrumento do Estado brasileiro, que vai tentar estabelecer e engrandecer suas parceiras com uma parte do mundo, que é interligado a nós por obra de Deus e da natureza."

O presidente interino do Supremo Tribunal Federal (STF), Carlos Veloso, aproveitou a cerimônia para defender o Judiciário. E ressaltou que a nova TV poderá "divulgar as nossas coisas boas".

Já o presidente da Câmara, João Paulo, destacou que a nova emissora vai permitir "conhecer o lado bom" do País. "O lado ruim deixamos para os outros." Ele ressalvou, porém, que a nova emissora não deve ser apenas oficial: "Vamos mostrar as virtudes do País, os potenciais, mas também os seus defeitos e dificuldades."

COMPROMISSO

O presidente da Radiobrás, Eugênio Bucci, informou ontem que a TV Brasil entrará em operação em caráter definitivo ainda este ano. O público-alvo são os expectadores dos países da região, mas, nas transmissões experimentais, o sinal alcançou também os Estados Unidos e parte da Europa.

Durante os seis dias do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, uma experiência piloto do projeto foi realizada com um sinal do satélite NSS-806, cedido gratuitamente pela empresa NewsSkies, segundo informação do presidente da Radiobrás. Bucci afirmou que, a partir de agora, com a assinatura do termo de compromisso entre os três Poderes, a nova TV passará por um segundo processo, com a licitação do seu próprio satélite.

Inicialmente, os trabalhos da nova emissora, que contará com 30 profissionais das TVs Câmara, Senado e Justiça, além da Radiobrás, serão realizados na sede da empresa governamental, em Brasília. O Comitê Gestor da TV Brasil - contando também com representantes do Parlamento e do Judiciário, além dos Ministérios das Relações Exteriores e da Secretaria de Comunicação de Governo - decidirá o formato da programação e o início das transmissões.

A TV, segundo Bucci, vai mostrar aspectos e fatos de outros países. "Este será um canal que não terá vergonha de falar portunhol, quando for necessário", brincou. Ele destacou, porém, que também serão transmitidos programas em português.

O gastos com custeio para a emissora este ano são de R$ 8 milhões, vindos do orçamento do Executivo, do Legislativo e do Judiciário. Estima-se, porém, que os custos ultrapassarão R$ 10 milhões. Em 2004, a Radiobrás investiu na aquisição de equipamentos R$ 6,3 milhões. Parte deles será usada na TV Brasil.