Título: 'Somos vitoriosos porque a matriz do partido é única'
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2005, Nacional, p. A6

"O PT e Lula são inseparáveis, não dá para imaginar um sem o outro", disse, em entrevista ao Estado, o presidente do partido, José Genoino. Ele rechaçou a idéia de que o PT tenha nascido de conceitos autoritários, então defendidos pelas tendências de esquerda que o criaram. E também rejeita a tese de que o PT esteja alterando seus eixos ideológicos. Como se explica que tenha dado certo um partido formado por tendências autoritárias para atuar na democracia formal?

O PT não se baseou em conceito autoritário. Em primeiro lugar porque já nasceu democratizando a estrutura partidária, já que na época só havia dois partidos. Em segundo lugar, o PT nasceu rompendo com o dogmatismo da esquerda porque sempre foi pluralista e democrático. Em terceiro lugar, nasceu democraticamente de várias vertentes. Portanto, o PT já nasceu radicalmente democrático.

Em 1979, quando o PT começou a ser criado, todos achavam que a miríade de tendências transformaria o partido num saco de gatos. Por que isso não aconteceu?

Diziam que era impossível criar um partido de trabalhadores no Brasil, mas com a força social e a competência de Lula, esse partido se tornou viável. Nasceu de várias tendências, mas, ao longo desses 25 anos, o peso das tendências foi diminuindo e o PT foi se tornando um partido. Eu mesmo entrei no PT como uma tendência radical. O PT ajudou a me transformar e eu ajudei a transformar o PT. Portanto, o PT é uma experiência de partido vitoriosa porque se constituiu sem um modelo preestabelecido, é uma matriz única, do ponto de vista ideológico e teórico.

Foi o PT que fez de Lula um grande líder ou foi Lula que transformou o PT no maior partido de massas do País?

As duas coisas. O PT foi uma obra política da sensibilidade, da intuição e da força de Lula. E a força do PT foi muito importante para o crescimento político e popular dele. Foram dois elementos que interagiram no processo de formação e crescimento do PT. E a liderança de Lula foi fundamental para o crescimento e para o equilíbrio do partido, porque ele sempre exerceu sua liderança sem mandonismo.

O PT está mudando o seu eixo ideológico, o que causa inquietação nos militantes mais radicais. Como essa questão vai evoluir?

O PT não mudou seus eixos e suas referências como partido de esquerda, como partido plural, de massas e que se baseia nos valores do socialismo democrático. O PT sempre foi um partido de tendências, o que é uma novidade entre os partidos de esquerda. Não virou uma frente, em primeiro lugar, pela força política e social; em segundo lugar, porque as tendências compreenderam que o caminho para transformar a sociedade brasileira seria através de um partido grande, e não da pulverização da esquerda; em terceiro, porque o PT, ao longo de sua história, sempre teve relação com os movimentos sociais mas nunca ignorou a responsabilidade no governar. As correntes foram percebendo que o projeto do PT é muito maior que cada uma delas, em si.

É possível um PT sem Lula?

PT e Lula são inseparáveis. Pela força, pela competência, pelo trabalho de Lula como construtor, dirigente e referência do PT, eles se tornam inseparáveis. Hoje o PT é uma instituição nacional, tem de sair da idéia de partido do macacão para encarnar o partido que tem projeto para o País.

O PT nasceu fortemente sindicalista. Como será o PT sem macacão?

O PT continua a ter sindicalistas. Mas tende a se consolidar como um partido que se funde num projeto de País.

Por que, ao longo do tempo, o PT aplicou remédios diferentes para rebeldias semelhantes?

Nós sempre tivemos remédios coerentes com os princípios da unidade de ação e da liberdade de opinião. Na história do PT isso foi uma linha de coerência, desde o Colégio Eleitoral, passando por experiências de prefeitos que se elegeram pelo PT e deixaram o partido, pelo processo de alguns parlamentares, passando agora pela questão da importância da unidade de ação por sermos governo.

O poder faz bem ou mal ao PT?

É claro que o poder faz bem a um partido que tem como missão conquistá-lo para realizar os seus objetivos democraticamente. Vivemos um momento muito positivo na história do PT. Não temos crise de identidade pelo fato de governar o País. Agora, nos seus 25 anos, o PT tem de fazer um balanço da sua experiência histórica .