Título: Coréia do Norte confirma que tem a bomba e abandona negociações
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2005, Internacional, p. A13

Alegando necessidade de se defender da "política hostil" dos Estados Unidos, o governo da Coréia do Norte declarou ontem, pela primeira vez de forma oficial, que dispõe de armas atômicas em seus arsenais. Em seguida, retirou-se, por tempo indeterminado, das negociações sobre o cancelamento de seus projetos nucleares bélicos. "Produzimos armas atômicas para fazer frente à política cada vez mais evidente do governo Bush de isolar e asfixiar a República Popular Democrática da Coréia", disse o Ministério das Relações Exteriores norte-coreano.

A confirmação do programa armamentista nuclear não chegou a causar surpresa. O regime comunista norte-coreano já admitira oficiosamente, no ano passado, a posse de armas atômicas. Mas a decisão de abandonar a mesa de negociação foi recebida com apreensão num momento em que algumas potências atômicas tentam convencer o isolado país comunista (ler na página A-14) a retomar as conversações - das quais participam as duas Coréias (Norte e Sul), Estados Unidos, Japão, China e Rússia.

O comportamento norte-coreano representa também um verdadeiro desafio ao presidente americano, George W. Bush, que procura de todas as formas dissuadir outro país, o Irã, de supostos planos para fabricar armas nucleares.

A decisão é considerada uma resposta ao discurso de posse de Bush, para seu segundo mandato, pronunciado em 20 de janeiro. Em sua mensagem, o presidente americano disse que buscaria aniquilar as tiranias, embora não tenha especificado nenhum país em particular. Mas, posteriormente, a secretária de Estado, Condoleezza Rice, incluiu a Coréia do Norte entre seis regimes que definiu como tirânicos.

"As armas atômicas (da Coréia do Norte) são um dispositivo de dissuasão nuclear para a autodefesa sob quaisquer circunstâncias", acrescentou o comunicado da chancelaria norte-coreana.

Estados Unidos, Coréia do Sul e Japão reagiram rapidamente ao anúncio da Coréia do Norte, que endurece as posições em uma crise diplomática enfrentada pelo norte da Ásia há mais de dois anos.

"Continuamos comprometidos com uma solução pacífica e diplomática para essa questão nuclear", disse o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan.

Até agora, ocorreram três rodadas de negociações, que terminaram sem grandes avanços e com a Coréia do Norte exigindo a assinatura de um tratado de não-agressão com os Estados Unidos.

"Realmente, não havia necessidade disso, mas vamos fazer uma avaliação da situação para determinar quais serão nossos próximos passos", disse a secretária de Estado, Condoleezza Rice. "A Coréia do Norte deveria reconsiderar essa posição e tentar pôr fim ao próprio isolamento", acrescentou.

A retirada norte-coreana ocorre uma semana depois que Michael Green, conselheiro de segurança dos EUA, entregou às autoridades chinesas uma carta com novas propostas americanas para impulsionar as conversações.

Segundo meios diplomáticos, Pyongyang estaria jogando duro aproveitando-se da atenção dos EUA voltada para o programa nuclear iraniano a fim de obter mais vantagens nas negociações.