Título: Imperfeito, processo é exercício democrático
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2005, Internacional, p. A14

Não é exatamente uma revolução democrática - a eleição é apenas para a metade dos membros dos conselhos municipais e as mulheres não podem votar. Mesmo assim, a Arábia Saudita embarcou ontem em suas primeiras eleições nacionais e o exercício poderá acabar sendo mais do que simbólico. Até agora, a autoritária dinastia fundadora do país, os Al-Saud, rejeitara até mesmo a noção da partilha do poder, prendendo e açoitando os que ousavam fazer praticamente qualquer protesto público. Assim, a entrada de funcionários eleitos no governo, mesmo que em escala extremamente baixa, introduz um elemento imprevisível na equação pela qual este reino no deserto é governado.

"Apesar das deficiências", disse Abdel Aziz al-Qasim, ativista político e ex-juiz, "esta é a primeira vez que as pessoas podem realmente participar da vida pública fora das mesquitas."

Uma mudança já perceptível é a vitalidade dos candidatos estreantes, que, de maneira singularmente saudita, transformaram esta capital, geralmente sombria por causa da proibição de bares, cinemas e discotecas.

Com quase 100 homens disputando cada uma das sete cadeiras disponíveis, os candidatos lembravam feirantes com suas tentativas freqüentemente bizarras de atrair potenciais eleitores para suas tendas eleitorais.

Eles mataram incontáveis carneiros para alimentar eleitores. E ofereceram conselhos de clérigos sobre todos os temas, da razão pela qual o Islã tolera a democracia a como ter uma segunda esposa sem realmente morar com ela.

Um dos banqueiros mais proeminentes do país chegou a lotar sua sala dando palestras gratuitas sobre o investimento no mercado de ações em expansão. "Pode-se chamar isso de introdução à democracia, mas esperamos que leve à democracia avançada", disse Ibrahim al-Nassar, um eleitor que estava sentado sob um lustre dourado num salão de casamento lotado, pouco antes de um poeta subir ao palco para cantar as glórias da nação e de um candidato particularmente rico.