Título: Esposa morganática não vai poder reinar
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Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2005, Internacional, p. A15

O casamento do príncipe Charles com Camilla Parker-Bowles era aguardado havia anos, sobretudo depois que Charles confessou, em 1994, na TV, sua infidelidade e o amor por ela. Uma certa animosidade se formou então contra Camilla. Diana havia dito quanto o romance do marido a fizera sofrer. O povo inglês continuará guardando rancor contra Camilla? Não parece. Eis o raciocínio desse povo pragmático: como Charles revelou perseverança admirável, e incompreensível, dizem os maldosos, em seu amor por Camilla, melhor lhe dar forma oficial. Essa união evoca problemas jurídicos, monárquicos e religiosos. Um novo casamento de Charles - com uma divorciada - é, em princípio, proibido pela Igreja Anglicana. Há precedentes: Henrique VIII, no século XVI, foi um grande soberano e isso não o impediu de casar ao menos cinco vezes. É bem verdade que essa bulimia conjugal provocou a ruptura da Inglaterra com o papa e a criação da Igreja Anglicana.

Surge uma questão: a futura mulher de Charles poderá reinar? Para esse ponto, a resposta é clara: uma plebéia torna-se apenas "esposa morganática": ela não pode reinar. Será o caso, portanto, de esperar novas reações? Não esqueçamos que Camilla é neta de Rosemary Keppel, filha natural de Eduardo VII e Alice Keppel.

Eduardo VII foi rei da Inglaterra. Levava uma vida tão dissipada que foi afastado do poder por sua mãe, de sorte que esse bisavô de Camilla não é um aval monárquico muito invejável. Em compensação, Camilla, mesmo divorciada e mãe de três filhos, parece feita para o papel de consorte real.

Ela é muito ativa em instituições de caridade, o que é sempre um ponto positivo para os Windsors. E tem outra virtude: diante das maledicências, sempre mostrou uma discrição exemplar. Seu outro mérito, aos olhos do povo, é que ajudou Charles a sair de sua tristeza. Depois que Diana revelou suas escorregadas de conduta num livro, Charles se tornou apático e solitário.

Passados alguns anos, ele reencontrou energia e paixão. Hoje, redobra os cuidados com os filhos William e Harry (o que nem sempre funciona) e se ocupa dos desfavorecidos. Estabeleceu laços estreitos com o primeiro-ministro Tony Blair. Sua organização, The Prince Trust, tornou-se um dos apoios de Blair.