Título: Indústria tem melhor ano desde 86
Autor: Jacqueline Farid
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2005, Economia, p. B1

A indústria brasileira fechou 2004 com o melhor desempenho em 18 anos e no patamar mais elevado da história. O crescimento da produção de 8,3% ante 2003, apurado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi o maior desde 1986 (de 10,9%), no Plano Cruzado. A expansão foi puxada por bens de consumo duráveis, bens de capital e exportações e superou, de longe, os números registrados nos anos mais recentes, cujas variações ficaram abaixo de 3%.

Os bons resultados acumulados em 2004 foram coroados por números que mostraram aquecimento industrial também no seu final. Em dezembro, segundo o IBGE, a produção também cresceu 8,3% ante igual mês de 2004 e apresentou ainda expansão de 0,6% ante novembro.

Para Silvio Sales, chefe de coordenação da indústria do IBGE, o setor fechou o ano revertendo o sinal de "acomodação para baixo", diagnosticado em novembro, para "acomodação com ligeiro crescimento" em dezembro.

Para os economistas da consultoria GRC Visão, "os números revelaram que, a despeito do arrocho monetário promovido pelo Banco Central (BC) desde setembro de 2004, a atividade doméstica continua firme".

Os economistas do Bradesco também comentaram, em relatório, que os números do IBGE mostraram não só um acentuado crescimento durante o ano, mas também no seu encerramento, ao contrário do que vinha ocorrendo no início do último trimestre.

Assim, como destacou Sales, eles observaram que o padrão de crescimento ao longo do ano, impulsionado pela melhora das condições de crédito, que alavancou os duráveis (automóveis e eletrodomésticos), começou a mudar no fim do ano, com melhor desempenho dos semiduráveis e não duráveis (alimentos, calçados), que dependem diretamente da renda líquida da população.

"Há sinais de que o padrão de crescimento mudou, já que a desaceleração (na expansão) está ocorrendo em áreas (bens de capital e duráveis) que lideraram a expansão anterior, enquanto os bens não duráveis passam a ter papel mais relevante na composição do crescimento", disse Sales. Os bens semi e não duráveis registraram, ante novembro, a maior expansão (3,4%) entre as quatro categorias de uso pesquisadas pelo IBGE.

Apesar da mudança na composição do crescimento industrial no último trimestre, a principal característica de 2004, segundo Sales, foi "um espalhamento" da expansão na produção. "O crescimento foi observado ao longo do ano e não apenas em determinados períodos", disse, acrescentando que 26 dos 27 segmentos industriais pesquisados registraram crescimento, com exceção do grupo de edição e impressão (-2,4%).

Ele lembrou que as exportações influenciaram positivamente a maior parte dos setores e no fim do ano os segmentos que dependem menos do crédito e mais da massa salarial tiveram expansão.

Os bens de consumo duráveis apresentaram crescimento de 21,8% no ano, o maior para esse grupo desde 1993. Os bens não duráveis, ainda que com desempenho bem mais modesto, de 4%, apresentaram o melhor desempenho desde 1995.

Os bens de capital, que espelham os investimentos no País, cresceram 19,7%, índice não superado desde 1992, quando foi iniciada a série histórica para as categorias de uso. Para Sales, os dados da indústria mostram que "houve crescimento do investimento ao longo do ano".