Título: Agora, a Fiesp quer saber quando caem os spreads
Autor: Priscilla MurphyColaborou: Fredy Krause
Fonte: O Estado de São Paulo, 11/02/2005, Economia, p. B4

O presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf, cobrou ontem a imediata redução dos spreads e dos juros bancários. Segundo ele, com a sanção da nova Lei de Falências, agora chamada Lei de Recuperação de Empresas, os bancos não têm mais desculpas para manter "os spreads mais altos do mundo". "A Fiesp está aguardando para hoje ou amanhã a redução dos spreads e dos juros", disse, acrescentando que a lei atenderá à indústria caso promova de fato a redução dos juros. Mas, segundo ele, a legislação serve ainda mais aos bancos, já que, depois de 11 anos de discussão, as instituições financeiras conseguiram o segundo lugar na escala de prioridades para recebimento de créditos, caso tenham garantias reais das empresas em estado falimentar.

Skaf disse que os juros são um peso para pessoas físicas e jurídicas. Estudo da Fiesp aponta um custo anual de R$ 118 bilhões para a sociedade, dos quais R$ 73 bilhões referem-se a spreads bancários. Para a Fiesp, se fôssemos um país como Chile, Argentina, México, Colômbia e Venezuela, os spreads nos tomariam R$ 16 bilhões, uma economia de R$ 57 bilhões, 3,5% do PIB brasileiro. A seguir, trechos da entrevista em que Skaf fala também sobre mudanças na política econômica, os gastos públicos e o encontro com o presidente Lula para discutir a MP 232.

Para a Fiesp, a lei de falências resultará em efetiva redução do spread bancário?

A lei é tudo o que os bancos sempre pediram, se comprometendo com a baixa dos juros. Agora é preciso que os spreads bancários baixem para valer. Chega de sangrar a sociedade.

A Fiesp vai cobrar a queda?

A Fiesp está aguardando para hoje ou amanhã a redução dos juros. Não há muito o que conversar sobre isso.

Mas já há quem fale sobre risco jurisdicional, uma nova modalidade de risco que justificaria a manutenção de spreads ainda elevados.

Primeiro, vamos baixar os spreads e os juros, depois vamos discutir outros riscos. Caso contrário, vamos inventar um novo risco que precisará ser resolvido antes de os juros baixarem.

A indústria tem reclamado mudanças na política econômica para que a economia e o setor industrial cresçam como no ano passado. Quais as alterações sugeridas pela Fiesp?

A Federação acha que deve ocorrer uma correção na política econômica. Nós somos contra aumentos de juros. Somos a favor de ir direto à ferida. Tenho falado isso há meses. O problema, a ferida, a doença está no gasto público. Há uma necessidade de um trabalho muito enérgico sobre os gastos públicos. É isso que vai propiciar a queda significativa dos juros, que por sua vez também provoca reação no câmbio.

Qual a ação da Fiesp nesta área?

O que vamos fazer é contribuir com o Brasil. A Fiesp vai se aprofundar na questão da Previdência Social, gastos vinculados e livres para diagnosticar em quais pontos estão os problemas e sugerir soluções. Queremos abrir ainda mais essa discussão que provocamos desde o final do ano passado. Já observamos a sociedade, a imprensa e o próprio governo debater o tema. A doença está no gasto público. Esta é a causa. Os juros e o câmbio são efeitos. Temos de enfrentar a causa e resolver o problema de uma vez por todas.

O sr. teve um encontro com o presidente Lula para discutir a MP 232. O sr. obteve algum apoio do presidente?

O presidente Lula prometeu uma reunião com o ministro Antonio Palocci com o objetivo de discutir a MP 232. Estou aguardando. Se dependesse de mim, a reunião seria hoje. Senti por parte do presidente que ele não está muito feliz com a MP 232. Se ele está disposto a chamar uma reunião... Certamente ele não estaria chamando uma reunião se não estivesse realmente interessado em fazer mudanças.