Título: MST gera insegurança, afirmam ruralistas
Autor: Fabíola Salvador, Vannildo Mendes, Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Nacional, p. A8

A decisão do MST de intensificar suas ações no decorrer deste ano, para protestar contra a lentidão da reforma agrária e o uso de sementes geneticamente modificadas, provocou críticas entre representantes de produtores rurais. Para o presidente da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), Márcio Lopes de Freitas, esse tipo de anúncio pode provocar um clima de insegurança na zona rural. "É uma notícia ruim, pois coloca em risco um segmento que tem sido propulsor da economia e um dos motores do desenvolvimento do País." Na opinião do presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), João de Almeida Sampaio Filho, o anúncio do MST de que pretende investir contra o avanço do agronegócio é insensato. "O trabalhador rural que foi assentado e hoje produz frangos em sistema de cooperativa ou para alguma empresa exportadora faz parte do agronegócio", disse. "O MST vai atacar o produtor assentado?"

SUPERÁVIT

O presidente da União Democrática Ruralista (UDR), Luiz Antonio Nabhan Garcia, qualificou de "absurdo" o ataque ao avanço do agronegócio. "O MST mostra como é atrasado ao se posicionar contra o desenvolvimento do País, uma vez que é o setor agroindustrial que tem garantido os superávits na balança comercial, criando empregos e oportunidades."

Lopes de Freitas, que é produtor de café, acredita que o real objetivo do MST ao alardear seus propósitos é fazer pressão sobre o governo para que acelere a redistribuição de terras dentro da reforma agrária: "Concordo com a reivindicação, mas não com a invasão ou a ocupação de terras", disse. "As liberdades precisam ser respeitadas."

Para o presidente da SRB, não há como satisfazer o MST: "O que está por trás das ações deles não é uma questão setorial, mas um projeto político amplo. Se amanhã parasse o plantio de transgênicos, eles achariam outro motivo para continuar criando confusão."

O Ministério do Desenvolvimento Agrário não quis comentar a reportagem publicada pelo Estado quarta-feira, mostrando como o MST pretende intensificar suas ações, articulando-se com a Via Campesina e organizações não-governamentais. Segundo a assessoria, o ministério tem como princípio não interferir na agenda dos movimentos sociais.

A assessoria do ministro Miguel Rossetto também informou que dois representantes do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) foram enviados a Pernambuco para acompanhar as investigações sobre o assassinato de um policial num assentamento do MST no sábado.

No Recife, o MST estadual encaminhou ao Incra os nomes de 12 pessoas foragidas que seriam responsáveis pelo crime. A lista deve ser entregue à policia.