Título: Igrejas admitem omissão diante de problemas sociais
Autor: Gilse Guedes
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Nacional, p. A9

Religiosos fazem mea-culpa no lançamento da Campanha da Fraternidade

BRASÍLIA - O Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic) admitiu ontem, durante a divulgação do texto-base da Campanha da Fraternidade de 2005 que as sete igrejas cristãs patrocinadoras do movimento falharam na promoção da paz, transmitindo uma educação religiosa recheada com valores preconceituosos. No mea-culpa, as igrejas dizem que a missão de lutar pela paz, proposta da Campanha da Fraternidade deste ano, é um dos principais objetivos da religião cristã e que está mais do que na hora de corrigir as falhas do passado para manter a credibilidade de suas ações. No texto, o Conic reconheceu ainda que as igrejas cometeram outros erros. Segundo o conselho, as instituições religiosas foram omissas diante de problemas sociais graves, atacaram-se mutuamente, transmitiram uma educação religiosa estimulando a intolerância e criaram estruturas injustas e excludentes.

Segundo um dos dirigentes do Conic e representante da Igreja Metodista, bispo Adriel de Souza Maia, a "maior falha das igrejas é que olharam para elas mesmas e perderam a perspectiva dos valores de justiça e de paz". O secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Odilo Pedro Scherer, disse que exemplos de erros cometidos no passado podem ser tirados da história, lembrando das guerras religiosas.

Na campanha pela paz, as igrejas selecionaram dois problemas que precisam ser combatidos: o uso de armas de fogo pela população brasileira e a violência doméstica. Segundo o texto-base, no Brasil, entre 1980 e 2000, o número de homicídios cresceu 130%, passando de 11,7 para 27 pessoas em cada 100 mil habitantes.

Como forma de promover a paz, a campanha da fraternidade deste ano terá a missão de estimular o desarmamento da população. Antes do lançamento da campanha, em novembro passado, uma comissão das igrejas foi ao vice-presidente José Alencar pedir a prorrogação da campanha do desarmamento até este ano.

O tema da Campanha da Fraternidade 2005 é Solidariedade e Paz. Este ano a campanha é ecumênica, com a participação de várias igrejas. Fazem parte do conselho a Igreja Católica Apostólica Romana, a Católica Ortodoxa Siriana do Brasil, a Cristã Reformada, a Episcopal Anglicana do Brasil, a Evangélica de Confissão Luterana no Brasil, a Metodista e a Presbiteriana Unida.

VIOLÊNCIA

A Campanha da Fraternidade foi apresentada ontem em São Paulo por d. Claudio Hummes. "O objetivo principal é combater qualquer tipo de violência, seja urbana, rural e de guerra", disse o cardeal. "É importante dizer que violência não é combatida com violência, como tem ocorrido com as políticas de ataque ao terrorismo."

De acordo com o cardeal, o governo pode contribuir para a paz, combatendo a pobreza e cabe à sociedade pressioná-lo para que isso ocorra. "Acredito, porém, que o presidente da República tem boa vontade e se empenha nas reformas sociais."