Título: Papa deixa de celebrar Cinzas
Autor: EFE, AFP, AP
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Vida, p. A10

Pela primeira vez, João Paulo II apenas concelebrou a missa, rezada por cardeal ROMA - Pela primeira vez em seus 26 anos de pontificado, João Paulo II, que está hospitalizado há nove dias por causa de uma crise respiratória, não celebrou, ontem, a cerimônia da Quarta-Feira de Cinzas. Ela foi realizada em seu nome, no Vaticano, pelo cardeal James Francis Stafford, que durante a homilia pediu a Deus que conceda a João Paulo II "a graça para continuar à frente da Igreja". Embora não tenha participado da cerimônia, o papa recebeu as cinzas na fronte, ritual que marca o início da Quaresma, no quarto da Policlínica Gemelli, em Roma, onde está internado. Segundo o porta-voz do Vaticano, Joaquín Navarro-Valls, João Paulo II presidiu a concelebração da missa: "As cinzas, benzidas por ele, foram impostas (em sua fronte) pelo primeiro dos concelebrantes."

Apesar de ainda não haver previsão de alta, o estado de saúde do pontífice, de 84 anos, parece que melhora. À espera da divulgação de um novo boletim médico, o que deve ocorrer hoje, o cardeal-vigário de Roma, Camillo Ruini, afirmou ontem que João Paulo II está bem. "Acabo de ver e saudar o Santo Padre e o encontrei verdadeiramente bem", afirmou, à saída do hospital. Fontes médicas, por sua vez, disseram que o estado de saúde do papa melhora satisfatoriamente. Se continuar assim, pode ser que receba alta no sábado.

Já o arcebispo de Paris, cardeal Jean-Marie Lustiger, disse que "o papa não precisa ser como Arnold Schwarzenegger, o governador da Califórnia, e parecer um super-homem que governa a Igreja". Lustiger ressaltou que o "trabalho do papa é pôr em prática as palavras de Jesus Cristo".

Para o cardeal-arcebispo de São Paulo, d. Claudio Hummes, "ter esse papa é um privilégio". Ele deu a declaração, ontem, na Catedral da Sé, durante o lançamento da Campanha da Fraternidade deste ano, cujo tema é Solidariedade e Paz. "Peço sempre a Deus que dê ao papa as condições de continuar à frente da Igreja."

Também ontem o médico Gianfederico Possati, chefe do Departamento de Medicina Cardiovascular da Gemelli, disse que surgiram muitos rumores "baseados em nada" sobre a saúde do papa. Nos últimos dias, especulou-se sobre a possibilidade de que ele fosse operado do coração e submetido a uma angioplastia. Em declarações ao Avvenire, o jornal dos bispos italianos, Possati disse que "não existe elemento algum que faça pensar em uma coisa desse tipo".

Apesar disso, continua a polêmica surgida após declarações do cardeal Angelo Sodano sobre uma possível renúncia de João Paulo II. Enquanto o argentino Jorge Mejia, por exemplo, reiterou que essa é uma hipótese que todos admitem, outros, como o italiano Giambattista Re e o colombiano Dario Castrillón Hoyos, consideraram as declarações de "mau gosto".

Se depender do papa, a renúncia é uma possibilidade remota. Ele sempre afirmou que "não há lugar para um papa aposentado" e está disposto a "se consumir até o fim pela causa do Reino de Deus".

RECONHECIMENTO

O Vaticano elevou a idade o cardeal polonês Henryk Gulbinowicz para 81 anos, o que o impede de votar num conclave, depois que ele reconheceu ter mentido sobre sua idade durante a 2.ª Guerra para evitar ser enviado a um campo de concentração, como o Estado adiantou na segunda-feira.

Segundo a última edição do Anuário Pontifício, a data de nascimento do cardeal é 17 de outubro de 1923 ou cinco anos antes do que estava publicado nos anos anteriores; portanto, ele não tem 76 anos. Cardeais acima de 80 anos não podem participar da eleição de um papa e essa mudança reduz o número de cardeais eleitores do próximo papa para 119.