Título: As ameaças que se escondem na praia
Autor: Evanildo da Silveira
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Vida, p. A11

Cartilha distribuída no litoral ensina a se proteger de água-vivas, ouriços-do-mar... Queimaduras e desidratação não são os únicos perigos que correm os banhistas que lotam as milhares de praias brasileiras durante o verão. Boiando na água, nadando ou escondidos nas rochas ou no fundo arenoso do mar existem ameaças mais graves, que podem estragar o fim de semana ou as férias de qualquer um. São animais marinhos perigosos, que podem queimar, ferroar, morder ou causar outros danos sérios. Para ajudar a evitar acidentes com esses bichos, o biólogo Álvaro Migotto, da Universidade de São Paulo (USP) e o médico dermatologista Vida Haddad Júnior, da Universidades Estadual Paulista (Unesp), elaboraram um folheto com dicas de como se prevenir contra os animais mais perigosos e comuns nas praia. O material também ensina quais as primeiras medidas de tratamento que se deve tomar em caso de ferimentos provocados pelos animais. Cinco mil dessas minicartilhas foram distribuídas, desde janeiro, em praias do litoral norte de São Paulo.

Os pesquisadores listaram nove espécies de animais perigosos (esponja-do-mar, caravelas ou bexiguinhas, água-vivas, polvos, ouriços-do-mar, moréias, mangangás ou peixes-escorpiões, arraias ou raias e bagres), sobre os quais dão uma série de informações (veja algumas delas no quadro ao lado). Entre elas, como são e onde vivem, quais os riscos que apresentam para as pessoas, como evitá-los, quais os sintomas que o contato causa e como tratá-los.

Segundo Migotto, exatamente metade de acidentes é causado pelos ouriços-do-mar. "Depois vem os bagres (20%) e as água-vivas e caravelas (20%)", diz. "O restante é causado pelos demais animais, com destaque para as arraias." Em qualquer um dos casos, os pesquisadores recomendam que, além dos cuidados iniciais explicados no folheto, a vítima procure um médico.

Os cientistas também alertam para os perigos das caminhadas pelas praias. "É preciso tomar cuidado para não pisar em bagres mortos devolvidos pelo mar. O veneno desses peixes continua ativo mesmo quando eles estão mortos", explicam. "Se inoculado na pessoa, pode trazer problemas sérios, como dor forte, que pode durar até seis horas. Os pescadores também devem ter cuidado ao manipular os bagres, peixes muito comuns em águas brasileiras."

ALIMENTAÇÃO

Além dos cuidados com animais, o folheto também apresenta recomendações sobre a alimentação da praia. Os pesquisadores lembram que nem sempre dores de barriga e diarréias são causadas pela ingestão de alimentos estragados. Alguns peixes e mariscos podem conter venenos em sua carne, que provocam os mesmos problemas. Caso a pessoa tenha febre, mal-estar, diarréia e dificuldade para se mover ou respirar, deve procurar imediatamente auxílio médico. Em alguns peixes, as toxinas podem estar presentes apenas em populações de determinados locais ou em certas épocas do ano.

Os pesquisadores também avisam que não se deve comer mariscos, ostras ou mexilhões de procedência duvidosa. Assim como se deve evitar tocar em algo que não se saiba do que se trata e respeitar o espaço dos animais. "Um animal se torna perigoso para nós apenas quando invadimos seu território ou chegamos muito perto dele", diz Migotto. "Se eles têm estruturas ou comportamentos que nos ameaçam é porque precisam deles na captura de alimentos ou para defesa."