Título: Protesto pelo 'não' à separação
Autor: Angela Perez
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Internacional, p. A12

Analista relaciona ataque com derrota basca no Parlamento O professor José Manuel Azcona, titular da cadeira de História Contemporânea da Universisdade Rei Juan Carlos, de Madri, vê ligações entre o atentado de ontem e a rejeição pelo Parlamento, na semana passada, de um plano que daria na prática a independência ao País Basco. Ele falou ao Estado por telefone: Como o senhor avalia o atentado de hoje (ontem) da ETA?

Ele reafirma a teoria assassina da organização e mostra que sua capacidade ainda é alta, apesar de ter dificuldade, hoje em dia, para recrutar jovens dispostos a cometer atentados correndo o risco de serem presos.Também mostra que aproveitaram a ocasião, a inauguração de uma mostra de arte contemporânea, para chamar a atenção de quem também é uma fortaleza na América Latina. Somente no México, país cujo presidente participou da inauguração, há 140 etarras clandestinos.

Acredita que o atentado foi uma resposta à rejeição do governo à proposta de independência do presidente do País Basco, Juan José Ibarretxe?

Com certeza este foi um modo de pressionar pelo Plano Ibarretxe e protestar por sua rejeição. O plano de uma Pátria Basca ampla é de interesse da ETA.

A Espanha sofreu uma profunda divisão após os atentados de 11 de março de 2004 contra trens de Madri. A polêmica sobre o País Basco está dividindo o país ainda mais?

Totalmente. O Plano Ibarretxe provocou divisões no próprio País Basco e a nível nacional está provocando uma fratura muito mais importante. O Partido Popular (ex-governo, que perdeu as eleições de 14 de março de 2004) mantém uma posição de absoluta dureza contra o terrorismo e também contra os partidos nacionalistas bascos. Já o Partido Socialista Operário Espanhol (no governo) defende uma posição de rejeição ao terrorismo, mas é ambíguo em relação aos partidos democráticos e nacionalistas bascos. Quanto mais o governo der aos nacionalistas, mais eles avançarão para a independência e a ETA, para a violência. Nenhuma região autônoma no mundo tem mais autonomia que o País Basco e acredito que o governo socialista, apesar de o Parlamento ter rejeitado o Plano Ibarretxe, acabará concedendo ainda mais autonomia à região no futuro.

Por que o senhor acha que o governo concederá mais autonomia?

Porque prevejo que nas eleições de abril no País Basco o Partido Socialista Basco acabará fazendo um pacto com o Partido Nacionalista.

Quais as conseqüências de uma maior autonomia ao País Basco?

A Espanha vive seu pior momento desde (Francisco) Franco, pois além da questão do País Basco enfrenta a questão da Catalunha. Qualquer medida adotada em relação ao País Basco terá repercussão entre os que defendem a independência da Catalunha. Enquanto no País Basco 59% da população não é nacionalista, na Catalunha apenas 15% é a favor do Partido Popular e o restante apóia o Partido Nacionalista Democrático e o Partido Socialista Catalão, ambos independentistas. Os catalães, que fazem parte do governo (do primeiro-ministro José Luis Rodríguez Zapatero), já avisaram que também vão querer mais autonomia e o governo depende de seu apoio para aprovar seus projetos no Parlamento.