Título: Curdos já assumem papel de fiel da balança no Iraque
Autor: The New Tork Times e Reuters
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Internacional, p. A13

Com boa votação na eleição, e cientes de que a principal lista xiita e outros grupos vão precisar deles para governar, líderes dessa minoria começam a exigir cargos importantes BAGDÁ - Os primeiros resultados da eleição indicando que os curdos poderão muito bem ser o fiel da balança na formação de um novo governo têm estimulado seus líderes a pressionar em favor de uma pauta ambiciosa, que poderá definir os campos de batalha políticos no Iraque. Se os atuais resultados se mantiverem, os relativamente seculares curdos estarão em posição de coibir quaisquer tentativas por parte de xiitas religiosos de instalar um governo islâmico. Líderes curdos dizem que estão fazendo pressão para terem um representante na presidência. Eles também querem garantias de que poderão manter uma região autônoma no norte, o que poderá elevar as tensões com os países vizinhos, que desconfiam de qualquer movimento dos curdos na direção da independência.

Há muito as autoridades americanas consideram os curdos seus aliados mais próximos no Iraque, em parte porque eles no geral são menos apegados à religião que os árabes do país. À medida que o Iraque parte para uma novo governo e uma Constituição, os americanos gostariam de se ver na situação de depender dos curdos como um meio de controle sobre os políticos islâmicos conservadores.

A confiança dos curdos na sua força política aumentou tremendamente desde segunda-feira, quando se tornou evidente que eles têm probabilidades de ter o segundo maior bloco na Assembléia Constituinte e possivelmente ser o grupo mais coeso e mais cortejado - em grande parte por causa do boicote dos sunitas à eleição. Como a formação do novo governo vai requerer dois terços dos votos da Assembléia, e como parece improvável que a principal chapa xiita consiga tal maioria, os curdos poderão tornar-se parceiro essencial numa coalizão.

No último boletim, a principal coalizão curda tinha 25% dos votos, estando atrás da chapa principal dos candidatos xiitas e bem à frente de outros partidos. Já foram contados cerca de 4,6 milhões dos quase 8 milhões de votos. É provável que os curdos obtenham no mínimo um quinto das 275 cadeiras. Uma possibilidade é que principal chapa xiita, que tem um forte componente islâmico, se junte aos curdos para formar o governo. Outras agremiações, como a chapa xiita secular liderada pelo primeiro-ministro Iyad Allawi - que, na segunda-feira, tinha 13% dos votos -, podem aproximar-se dos curdos para formar um bloco com suficiente poder para criar obstáculos ao principal grupo xiita. Isso deixa os curdos na posição de fazer exigências políticas.

ELEIÇÃO

Funcionários da Comissão Eleitoral disseram ontem que terão de recontar cerca de 300 urnas por causa de uma série de discrepâncias nos dados. Com isso, o resultado final cuja divulgação seria feita ontem, foi adiado. Ontem, rebeldes mataram nove policiais, um alto funcionário do Ministério da Habitação e um jornalista iraquiano que trabalhava para uma TV financiada pelos EUA.