Título: CBA atinge US$ 1 bi aos 50 anos
Autor: Agnaldo Brito
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Negócios, p. B13

Empresa que revelou Antonio Ermírio para os negócios já projeta meio milhão de toneladas de alumínio por ano R$ 2.741.753.600,00 ou US$ 938,957,285.00. Está aí o faturamento bruto em 2004 da Companhia Brasileira de Alumínio (CBA), uma das jóias da coroa do Grupo Votorantim. No bruto, receita 42% superior ao ano de 2003. Nem o titubeio do dólar deve impedir a CBA de cruzar a barreira de US$ 1 bilhão em receita em 2005. Ano que não será um qualquer. Dia 4 de junho, a empresa completa 50 anos e sustenta uma escrita: crescimento médio anual de 10%. Visto assim parece fácil. Mas hoje Antonio Ermírio de Moraes, presidente do Conselho de Administração do grupo e responsável pelo negócio, diz sem receio como foi a aventura. "Produziamos mil toneladas de aço de péssima qualidade quando começamos. Entre 1955 e 1956, nós apanhamos", recorda-se.

FÁBRICA NA PROVÍNCIA

Foi ali, entre São Roque-Mairinque e Sorocaba que surgiu e se desenvolveu a CBA. Alumínio, município de 15 mil habitantes, abriga hoje a maior fábrica integrada para processamento do minério do mundo. Bauxita em torrões extraída e transformada em cabos para linhas de transmissão, laminados de seis milímetros a 6 microns, perfis, lingotes. Quem chega a Alumínio não precisa perguntar pela CBA. Se der as costas para a companhia verá uma típica cidade do interior, provinciana, com suas ruas calçadas com blocos de cimento e casas de muro baixo ao nível da cintura. Caso olhe a fábrica frente-a-frente irá se impressionar, tal o gigantismo do complexo. É o endereço mais visível da redondeza. Ali trabalham 4.648 pessoas.

"Quando entro na fábrica, tenho a sensação de trabalho realizado", comenta Antonio Ermíro de Moraes. Pudera. Um dos maiores industriais do mundo, dono de um império que fatura R$ 15,8 bilhões por ano, começou em Alumínio, em 1949. Em princípio, a fábrica deveria ser instalada em Poços de Caldas (MG), de onde vem por trem a bauxita para processamento. A falta de energia em Minas Gerais foi a razão para iniciar a montagem do complexo industrial na região de Sorocaba.

A distância da mina não tem sido problema de competitividade. Aliás, a fábrica cinquentona tem servido de modelo para o setor. Usuária da tecnologia de fornos Sorderberg com pino vertical, a fábrica tem obtido uma marca importante dentro da indústria do alumínio. Produz uma tonelada com o dispêndio de 14,3 kw/h, o que é considerado um desempenho excepcional. Em média, as indústrias gastam mais de 15 kw/h por tonelada. Parece uma diferença insignificante, mas não é dado o custo da energia na produção de uma tonelada do minério.

Mas, neste aspecto, o Grupo Votorantim soube tirar proveito de uma grande fonte de energia: a hidroeletricidade. Treze usinas hidrelétricas construídas pelo grupo fornece 60% de toda a energia necessária à produção de alumínio. Com as usinas de Barra Grande e Campos Altos, a CBA chegará à marca de 67% da demanda de energia produzida por si própria. Isso já considerando o crescimento de 340 mil para 400 mil toneladas por ano. Número já ultrapassado, se considerados novos investimento já em curso. No aniversário em junho, quando ativar a capacidade de produção ainda em montagem, um nova expansão estará em curso: agora a meta é atingir 460 mil toneladas.

Nesta fase, o uso de energia própria cairá a 63% da demanda total. No mundo, a geração própria é de médios 28%. "Estamos bem", diz Antônio Ermírio. Tão bem que a CBA pode crescer ainda mais a partir de 2007 e superar a produção de 500 mil toneladas de alumínio por ano. Tudo vai depender de energia, complementa Luís Carlos Loureiro Filho, diretor de vendas da CBA.

DEMANDA

Em 2004, segundo números da empresa, 67,5% das vendas ocorreram no mercado interno contra 32,5% no mercado externo. Isso, a despeito da queda do dólar. "Como nós temos um dos custos mais baixos do mundo é possível aguentar com tranqüilidade. É esse o segredo. Às vezes convido os concorrentes para uma visita à fábrica. É só para fazer uma gozação neles", brinca.

Exportar virou vocação da CBA. Já exportou 50% da produção em tempos menos favoráveis, em que o mercado interno fracassou. Aliás, ao que parece, a parcimônia da economia brasileira parece ser a única coisa que tira o industrial do sério. O ingresso da divisão de cimento nos Estados Unidos (onde detém 6% do mercado) ocorreu apenas devido ao fato de mais de 30% da capacidade do negócio estar parada.

Não gosta dos "acionistas de boquinha aberta" que aguarda o fechamento do exercício para receber o quinhão em dividendos. Lucro deve ser reinvestido, repete. Em parte por isso, boa parte da produção da CBA já é de alumínio transformado: 52%. Apenas 48% são de fundidos. E a tendência é apostar no avanço da cadeia cada dia mais. Até meados do segundo semestre, o complexo industrial de Alumínio receberá dois laminadores zerados. São US$ 100 milhões aplicados nos equipamentos. Somados, de 2002 a 2007, a CBA terá investido US$ 1,040 bilhão. Em pouco tempo, talvez não faça mais sentido os lingotes no símbolo da empresa.