Título: Foi preciso investir fora, diz Ermírio
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Negócios, p. B13

Industrial brasileiro diz que fracasso do Brasil empurra grupo para exterior

A internacionalização do Grupo Votorantim foi uma necessidade, não um desejo. Nesta entrevista a Agnaldo Brito e Nair Keiko Suzuki, Antonio Ermírio de Moraes, presidente do Conselho de Administração do Grupo, reclama mais investimentos industriais no Brasil e diz que, por ele, "não iria para fora". A seguir, os principais trechos: Há perspectiva de o Grupo Votorantim adquirir novos ativos no exterior?

Se o Brasil continuar marcando passo... Mas eu desejo que o Brasil cresça e nós possamos investir tudo aqui. Somos brasileiros e, em primeiro lugar, é o Brasil. Temos que colocar investimento aqui. Se não fosse esse impacto no mercado interno de cimento não haveria necessidade de pôr nada lá fora. Eu sou contra esse negócio de fazer muitos planos para o exterior.

O grupo foi obrigado a internacionalizar-se?

Tenho uma preocupação de desenvolver o Brasil. Saímos para fora por causa do cimento, porque não tinha mais o que fazer. Havia uma capacidade ociosa aqui de 35%. Tivemos que ir para fora para não paralisar. Temos uma equipe grande que trabalha com cimento e então deslocamos essa equipe para os EUA. No momento em que o Brasil voltar a crescer, teremos cimento para garantir a oferta. O fato de o Brasil não gastar cimento... não entendo. Lá fora não devíamos falar sobre isso, é uma vergonha! Vamos ficar fazendo o que, construção de pau-a-pique?

O senhor fala em ampliar o aproveitamento hidrelétrico brasileiro, mas há uma forte pressão dos ambientalistas em relação aos impactos que isso produzirá.

Eles precisam viver. Então vivem de pequenas chantagens. Ficam cutucando você, já estou acostumado a isso. Para fazer um lago, tem de escutar 200 quilos de bobagens, mas tem de enfrentar. O potencial hidrelétrico brasileiro é um negócio estonteante. Vamos desenvolver este potencial hidrelétrico, pelo amor de Deus!

O Grupo tem avançado em áreas não tradicionais, como a Votorantim Novos Negócios. O que o senhor acha desses negócios?

Bem, isso deixo para o próxima geração. É grande o esforço para desenvolver níquel, zinco, alumínio, aço. Somos pequenos em aço. Não me permitiria um volume tão grande. Vamos desenvolver o que temos aqui. Essa é minha opinião pessoal. É meio luxo, não é? Não se pode fazer uma reserva de US$ 300 milhões esperando que uma vaca voe. Acho que devemos investir nas coisas que já temos condições de crescer no Brasil, para não perder liderança. É o caso do alumínio. Temos como corrente a Vale do Rio Doce, que é um concorrente enorme, a Alcoa que é o maior produtor do mundo e a Alcan que é a segunda maior produtora do mundo. Então, não podemos brincar com essa turma. Acho que temos que aproveitar para crescer o Brasil, sou meio nacionalista nesse sentido.