Título: Dar aulas atualiza executivos
Autor: Marina Faleiros
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Economia - Carreiras, p. B14

Unir o mundo corporativo ao acadêmico dá prazer a profissionais e os mantém em contato com novas idéias Mesclar conhecimento teórico às práticas do dia-a-dia é algo que muitos profissionais buscam para obter sucesso em suas carreiras. Dar aulas, por este motivo, é uma atividade que atrai muitos executivos dispostos a transmitir experiências empresariais. Em troca, eles ganham satisfação pessoal e trazem novas idéias para suas atividades. Rodrigo Rasga, diretor financeiro da Esteve, multinacional ligada à exportação de café, tem aplicado na sua empresa muito do conteúdo teórico que leciona no MBA da Brazilian Business School (BBS). Como exemplo, ele cita as análises de indexadores e controle de alavancagem. "A gestão de risco é uma das coisas que ficavam nos livros e que passei a cuidar, porque tive mais contatos com as aulas", revela. Na atividade, ele conta que é preciso estudar muito mais do que quando era aluno. "Eu me tornei muito crítico, pois o professor tem de dar importância a tudo o que lê, e os alunos são muito exigentes".

Para o coordenador do MBA em Tecnologia da Informação da Pontifícia Universidade Católica, Alexandre Campos Silva, o contato com o mundo acadêmico lhe deu chances de ter muito conhecimento para desenvolver sua empresa, a XNX, voltada para a educação à distância. "Ganhei uma base sólida de formação para tocar meu negócio com segurança e competência", diz.

Silva participa de diversos grupos de estudos e a universidade lhe dá a oportunidade de fazer intercâmbio internacional grande na sua área de atuação. Ele, por exemplo, já passou uma semana no Massachusetts Institute of Technology (MIT), uma das universidades mais famosas do mundo na área de tecnologia. "Tenho oportunidade de discutir idéias com pessoas altamente capacitadas e aplicá-las no meu negócio".

Já Edélcio Koitiro Nisiyama, que leciona Contabilidade Gerencial no Instituto Brasileiro de Mercados de Capitais e é diretor administrativo financeiro da SKF, conta que a atividade de professor toma bastante do seu tempo, principalmente em finais de semana, em que tem de fazer correções ou preparar aulas, mas que não há restrições por parte da empresa. "O fato de eu ficar com assuntos atualizados é bom para todos".

Outro que alimentou o gosto pelas aulas é o advogado Roberto Quiroga, professor da graduação em Administração da FGV e sócio de um escritório de advocacia. Ele diz que a atuação complementa sua vida profissional. "Adaptei meu trabalho no escritório e meus sócios entenderam que é bom para a firma e para mim, pela reciclagem que tenho e exposição do meu nome no mercado".

JUVENTUDE

Estar perto de alunos que ainda estão começando a carreira serve como uma espécie de fonte da juventude para muitos executivos. No ambiente acadêmico, os profissionais contam que encontraram a maneira perfeita para reciclar suas mentes. "Estar próximo aos jovens promove uma oxigenação de idéias", conta Rasga.

Nelson Barrizelli, professor da Faculdade de Administração e Economia da USP e consultor da AGC International, comenta que não é possível dar aulas sem estudar muito, e que a função de professor o obriga a estar sempre procurando novidades: "Tenho a obrigação moral de entrar na sala com a aula preparada, pesquisando o que existe de estado-da-arte sobre o assunto que vou dar".

O convívio universitário também complementa Silva. "É um ambiente muito propício à inovação e muito do que eu faço no meu trabalho é baseado em pesquisas da universidade". Em contrapartida, ele crê ser muito saudável para o aluno descobrir o mundo corporativo por meio da experiência dos professores.

A busca por estar sempre em contato com novas idéias é outro fator que levou Nisiyama de volta às salas de aula. "Acabo me atualizando com mais freqüência do que um executivo comum", acredita. De acordo com ele, os alunos são exigentes e desafiadores: "A troca de informação é interessante para os dois lados e estou constantemente aprendendo".

Quiroga conta que vive aprendendo porque, apesar de ser advogado, dá aulas para administradores. "Não é incomum me surpreender com algo que nunca tinha pensado", diz. Ele calcula ter dado aulas para quase mil alunos.