Título: Beija-Flor é tricampeã e Portela escapa do rebaixamento no Rio
Autor: Clarissa Thomé, Beatriz Coelho Silva e Roberta Pen
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Cidades, p. C1

Luxo e criatividade garantiram vitória à escola de Nilópolis por 0,1 ponto à frente da Unidos da Tijuca; Portela fica no Grupo Especial RIO - Os últimos foram mesmo os primeiros: a Beija-Flor, que fechou os desfiles na Sapucaí, com um enredo sobre os sete povos das missões, foi a grande campeã do carnaval do Rio, pelo terceiro ano consecutivo. A Unidos da Tijuca, vice-campeã, como em 2004, dessa vez perdeu por apenas um décimo. Grande Rio, Imperatriz, Salgueiro e Mangueira também voltam à avenida no sábado das campeãs. Em penúltimo lugar, a Portela, que fez uma apresentação problemática, escapou por pouco de ser rebaixada para o Grupo de Acesso A. Caiu a Tradição. A apresentação luxuosa e criativa deu à Beija-Flor 34 notas 10, num total de 399,4 pontos (o máximo é de 400 pontos). Os jurados tiraram um décimo nos quesitos conjunto, mestre-sala e porta-bandeira, evolução, alegorias e adereços, enredo e harmonia. Exultante com o resultado, o diretor de carnaval e de harmonia, Laíla, não reclamou.

"Eu não vou criticar a decisão dos jurados. Agora, a (porta-bandeira) Selminha Sorriso é magnífica. As outras questões a gente vai analisar no próximo carnaval", disse.

Como de costume, Laíla passou toda a apuração no sambódromo, afastado da mesa onde estavam os outros diretores da escola de Nilópolis. Extremamente nervoso, ele se agarrava às guias de umbanda que carregava no pescoço. Ao fim, respirou aliviado: "Foi a vitória da honestidade, da dedicação, do carinho". O presidente da Beija-Flor, Farid Abrahão David, afirmou que já se prepara para o ano que vem. "Estamos pensando no tetracampeonato."

Laíla acompanhou as notas a poucos passos do festejado carnavalesco da Unidos da Tijuca, Paulo Barros, tido como um dos mais criativos em atividade. Ele estava aparentemente tranqüilo. A escola, que levou para a avenida mundos imaginários, encarou o segundo lugar como uma vitória.

"Estamos muito felizes e honrados por mais um vice-campeonato. Vamos continuar lutando para sermos campeões do carnaval", disse Vantuir, puxador do samba. Ele lembrou que 3.800 dos 4.500 integrantes são da comunidade do Borel, o que vem contribuindo para os bons resultados.

Animada, a torcida tijucana, que foi à Passarela do Samba acompanhar a apuração, foi embora gritando "é campeã." O presidente da agremiação, Fernando Horta, não preparou festa na quadra, que, uma hora depois da divulgação do resultado, continuava vazia. "São tantos anos atrás desse título que eu fiquei velho. Já não tenho mais condição de aproveitar", brincou.

SUFOCO

A Portela, que fez possivelmente o pior desfile de seus 82 anos, conseguiu se salvar de cair para o Grupo de Acesso. Acabou em 13.º lugar. "Para quem teve só três meses para preparar o carnaval, foi muito bom", disse Nilo Figueiredo, presidente da azul-e-branco.

Ele se mostrou preocupado com o mal-estar causado por sua decisão de barrar a Velha Guarda do desfile de segunda-feira, depois que o carro alegórico em que os sambistas viriam quebrou. "Vou para a quadra, conversar com as pessoas que ficaram chateadas comigo, porque o importante é a conciliação." A Grande Rio ficou em terceiro, melhor colocação desde a sua fundação, em 1988. A Imperatriz, uma das favoritas, que brigou pelo campeonato durante boa parte da apuração, acabou perdendo pontos em quesitos em que é especialista, como mestre-sala e porta-bandeira e alegorias e adereços. O sexto lugar da Mangueira revoltou os dirigentes. "Os jurados são mais severos conosco por nossa tradição e nosso nome", reclamou Edinho, diretor de harmonia.

CRITÉRIOS

Já Paulo Viana, presidente da Mocidade, nona colocada, com apenas 5 notas máximas, reclamava da falta de critério dos julgamentos. "Se houve critério, foi o da incompetência, pois em alguns quesitos tivemos notas menores do que outras escolas que nem os apresentaram. Alegoria é um exemplo." Criada há 21 anos a partir de uma dissidência da Portela, a Tradição, que somou 379,6 pontos, caiu pela segunda vez para o Grupo de Acesso A.

Mesmo triste, o presidente da escola, Nésio Nascimento, tentou não se abater. "A Tradição é guerreira, vai fazer um ótimo carnaval no ano que vem e voltará ao Grupo Especial." Ele sugeriu que a Tradição pode ser sido preterida para que a Portela, que teve 4,3 pontos a mais, se mantivesse entre as grandes. No ano que vem, a Acadêmicos da Rocinha, escola de Adriane Galisteu, sobe ao grupo de elite pela primeira vez.