Título: Ganhou quem errou menos, diz Neguinho da Beija-Flor
Autor: Luciana Nunes LealBeatriz Coelho Silva
Fonte: O Estado de São Paulo, 10/02/2005, Cidades, p. C3

RIO - As 20 mil latas de cervejas compradas pela direção da Beija-Flor para a comemoração do tricampeonato foram insuficientes para aplacar a sede da torcida. A quadra já estava cheia durante a apuração das notas e superlotou assim que a agremiação foi anunciada campeã do carnaval de 2005. Com capacidade para 15 mil pessoas, havia pelo menos 20 mil, segundo a direção. A bateria nota 10 de Mestre Paulinho e o intérprete da escola, Neguinho da Beija-Flor, alegravam a festa com o samba que exaltava as belezas do Rio Grande do Sul. Mas, em vez de acompanhar a letra, o público pedia, em coro, mais cerveja. No ano passado, a escola parecia estar mais confiante: comprou 50 mil latas. "Ganhou quem errou menos", disse Neguinho. "Vou seguir esse presidente: em 30 anos de Beija-Flor, é tricampeã pela segunda vez, a primeira foi quando eu cheguei (em 1978, antes do sambódromo), com um samba meu".

"Este ano foi mais difícil, mas nós também já perdemos por um décimo para a Mangueira", disse o presidente de honra da escola, Aniz Abrahão David, ao ser questionado se o resultado poderia dar margem a reclamações de outras escolas. O presidente, Farid Abrahão David, criticou os jurados. "Eles foram muito rigorosos, principalmente no quesito mestre-sala e porta-bandeira (o casal perdeu um décimo)".

A direção da Unidos da Tijuca não organizou festa. Até as 19h30, a bateria não havia chegado à quadra e o público - cerca de 1.500 pessoas - estava disperso nas ruas próximas. Um trio elétrico foi chamado para animar a festa da vice-campeã.

HISTÓRIA

A escola tricampeã do carnaval carioca nasceu na vizinha Nilópolis, cidade da Baixada Fluminense, no Natal de 1948. Numa festa, o grupo formado por Milton de Oliveira (Negão da Cuíca), Edson Vieira Rodrigues (Edinho do Ferro-Velho), Helles Ferreira da Silva, Mário Silva, Walter da Silva, Hamilton Floriano e José Fernandes da Silva resolveu formar um bloco. O nome Beija-Flor foi dado por dona Eulália de Oliveira, mãe de Milton, que entrou para a galeria de fundadores da escola.

Inscrita na confederação de escolas de samba do Rio em 1953, a Beija-Flor desfilou pela primeira vez em 1954, no Grupo de Acesso, e foi campeã. Alçada ao grupo de elite do carnaval, a escola teve uma ascensão meteórica na década de 1970, graças ao talento do carnavalesco Joãosinho Trinta.

Em 1976, conquistou a primeira vitória com Sonhar com Rei Dá Leão e ganhou ainda nos dois anos seguintes. Com nove campeonatos, a escola conseguiu repetir a façanha e igualou-se à Imperatriz Leopoldinense, também tricampeã na era sambódromo.

A vitória da Beija-Flor conquistada ontem também consolida o êxito da comissão de carnaval liderada por Laíla, que uniu rigor técnico e carnaval grandioso com boas doses de polêmica para deixar para trás o histórico de oito vice-campeonatos.