Título: Peregrinação a Meca pode ter difundido vírus da pólio
Autor: EFE
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Vida, p. A11

GENEBRA - A Organização Mundial da Saúde (OMS) confirmou ontem três casos de poliomielite na Arábia Saudita, dois deles em crianças provenientes da África e o terceiro em uma criança que não tinha saído do país nos últimos dois anos e tinha sido vacinada. Desde 1995, a pólio era considerada uma doença erradicada na Arábia Saudita, onde teme-se que a peregrinação à cidade santa de Meca, que ocorreu no mês passado, tenha se tornado foco de transmissão. O diretor do programa da OMS para erradicar essa doença, David Heymann, reconheceu que existe uma "grande preocupação" de que a pólio seja difundida no Oriente Médio através dos peregrinos. Neste ano, mais de 2 milhões de pessoas participaram da peregrinação e grande parte delas vinha de países africanos e asiáticos onde a poliomielite continua presente.

Cinco dos seis países onde esta doença é endêmica são muçulmanos (Paquistão, Afeganistão, Egito, Nigéria e Níger), da mesma forma que outros cinco países da África subsaariana onde a pólio ressurgiu em 2004, disse Heymann.

No entanto, o especialista da OMS afirmou que o "sistema de saúde saudita é impecável" e as autoridades adotaram as medidas necessárias para manter um nível de higiene adequado nos acampamentos de peregrinos. Durante a última peregrinação "não surgiu nenhuma epidemia", disse. Somado a isso, os programas de vacinação contra a pólio no país islâmico têm uma alta cobertura (95%).

IMPORTAÇÃO

Segundo Heymann, dois dos casos de poliomielite descobertos na Arábia Saudita se remontam a setembro e todas as evidências indicam que correspondem a "importações do vírus a partir de países africanos".

O terceiro caso, que data de dezembro, é o de uma criança nigeriana vacinada, que não tinha saído do país nos dois últimos anos e teria sido contagiada por outras crianças que vieram da Nigéria em uma visita de família.

Heymann explicou que por "diversos motivos" a vacina pode ter gerado um nível de imunidade insuficiente diante de algum dos três tipos de vírus do pólio existentes. Segundo ele, em média são necessárias três doses para garantir uma boa proteção. Para cada criança paralítica, disse, pode haver até 250 menores portadores do vírus que não apresentam sintomas da doença.

As autoridades sauditas mantêm contato permanente com a agência da ONU, informando sobre qualquer mudança na situação. A OMS recomenda que crianças e adultos que vivem em países que exportaram o vírus sejam vacinados, principalmente antes de viajar para outro país, da mesma forma que os viajantes que chegam a esses países.