Título: Campos quer levar tecnologia e ciência à periferia
Autor: Christiane Samarco, Marcelo de Moraes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2005, Nacional, p. A4

O ministro da Ciência e Tecnologia, deputado Eduardo Campos (PSB-PE), prepara o lançamento em grande estilo e em parceria com o Palácio do Planalto, no dia 14 de abril, do programa que cria a rede de tecnologias sociais. O ministro quer fazer sua parte para criar a marca da gestão eficiente à moda Lula. Campos planeja inovar, tirando a ciência e tecnologia dos limites da academia para levá-la ao cotidiano das populações de baixa renda. O secretário de Ciência e Tecnologia para Inclusão Social, Rodrigo Rollemberg, explica que o exemplo clássico desse tipo de tecnologia é o soro caseiro que já salva a vida de milhares de crianças Brasil afora. Mas há também os projetos de construção de cisternas e de unidades de tratamento de água para o meio rural, que se pretende ampliar por meio da rede. O programa será voltado exatamente para o Norte, Nordeste e as periferias dos grandes centros urbanos, onde se concentram os maiores focos de pobreza do País.

No interior da Paraíba, por exemplo, está sendo desenvolvido o projeto Mandala de utilização racional da água, articulado com produção de hortaliças e frutas. Também, com sucesso, a Embrapa de Sete Lagoas criou o projeto barraginhas de captação de água das chuvas, evitando erosão, enchentes e assoreamento, na medida em que as águas captadas alimentam o lençol freático e tornam perenes rios e córregos temporários.

Também deverá ser prioridade do programa a difusão da tecnologia de retirada de látex a baixo custo já em uso na Amazônia, criada pelo Departamento de Química da Universidade de Brasília.

Preocupado com a imagem da administração petista, o ministro da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushken, é o grande entusiasta do projeto para o qual o MCT reserva R$ 40 milhões este ano, só para o apoio à pesquisa e à inovação para a difusão de tecnologias sociais.

"Colocar no ambiente da ciência a preocupação com a inclusão social é uma inovação do governo", diz Campos, ao destacar que seu ministério vai gerir uma rede nacional de tecnologias de baixo custo e pouca complexidade, mas capazes de produzir um grande impacto social. A seu ver, essa é uma aliança que fortalece o Brasil e também os cientistas, no cenário político brasileiro, por "resgatar excluídos para a cidadania e dar condições de competitividade a muitas atividades que morrerão se não forem impulsionadas".

A secretaria tem se articulado com outros ministérios que cuidam dessa questão dentro do governo para construir a rede de tecnologia social com tecnologias apropriadas às várias realidades, que melhoram arranjos produtivos locais e políticas públicas de saneamento, de agricultura familiar.

O objetivo da rede é juntar os recursos humanos e financeiros de todos os parceiros que já desenvolvem um trabalho nesse sentido, como os centros de pesquisa da Embrapa, o Sebrae, a Fundação Banco do Brasil, além de outras entidades e ONGs, e trabalhar uma política capaz de multiplicar e reaplicar essas tecnologias em larga escala, para ampliar o impacto positivo e melhorar a vida das pessoas.

Nesse início do trabalho, deverão participar 11 entidades, sob a coordenação do MCT. A idéia é que o ministério fique com a secretaria executiva da rede, articulando todas as iniciativas já em curso no Ministério do Desenvolvimento Social, na Petrobrás, no Finep (Financiadora de Estudos e Projetos), Sebrae, Associação Brasileira de ONGs, no Grupo de Trabalho da Amazônia, na Associação do Semi-Árido no Instituto Ethos e no Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas.