Título: Acordo com países árabes será 'abalo sísmico', diz Amorim
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Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2005, Nacional, p. A10

Os países árabes e sul-americanos chegaram ontem a um acordo sobre o rascunho da declaração conjunta de chefes de Estado e Governo que deverão lançar na Cúpula de Brasília, nos dias 10 e 11 de maio, especialmente no que diz respeito ao terrorismo. O rascunho da declaração, de 19 páginas, contempla os seguintes pontos: reforçar a cooperação birregional e as relações multilaterais; reforçar a cooperação cultural das duas regiões; a cooperação econômica; o comércio internacional, o Sistema Financeiro Internacional; o desenvolvimento sustentável; o desenvolvimento da cooperação Sul-Sul; cooperação em ciência e tecnologia; a sociedade da informação; ação contra a fome e a pobreza; o desenvolvimento de assuntos sociais e mecanismos gerais para a cooperação.

No primeiro capítulo, sobre as relações multilaterais, o documento deverá destacar um apelo para a reformulação da Organização das Nações Unidas e do Conselho de Segurança da ONU, pelo combate às ameaças contra a paz e a segurança internacionais sob os preceitos da Carta da ONU, pela não-proliferação de armas nucleares e pela solução do conflito no Oriente Médio.

O documento é resultado de um encontro preparatório em Marrakesh, entre chanceleres dos 12 países sul-americanos e 22 árabes. "Os historiadores irão registrar um pequeno abalo sísmico", afirmou o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, sobre a cúpula, a seus colegas no Marrocos. A reunião, proposta pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é a mais audaciosa iniciativa da política externa do governo petista: pretende mudar a geoeconomia e a geopolítica mundiais e potencializar as relações entre o hemisfério sul do ocidente e do oriente.

É generalizada a opinião de que a cúpula - entre duas regiões emergentes, com recursos naturais impressionantes e níveis de desenvolvimento e desigualdade semelhantes - é uma "oportunidade histórica".

COMÉRCIO

No campo comercial, está praticamente tudo por fazer. "Há grandes oportunidades de investimento tanto nos países árabes quanto na América do Sul, que está criando uma grande rede de infra-estrutura de integração", garantiu Amorim. A América do Sul poderia beneficiar-se do capital das monarquias petrolíferas do Golfo Pérsico. Os países árabes poderiam abrir-se a multinacionais como as brasileiras Vale do Rio Doce, Petrobrás e Embraer.

Durante a cúpula, está prevista também uma reunião de empresários em busca de oportunidades de negócios, sem contar já com o avanço das negociações entre o Mercosul e países árabes ou grupos de nações árabes, Marrocos, Egito e o Conselho de Cooperação do Golfo (CCG).

Os 34 países reunidos em maio também já demonstram disposição para colaborar nos foros internacionais como a Organização Mundial do Comércio e a ONU.