Título: Senadores suspeitam de policiais no caso Dorothy
Autor: Carlos Mendes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2005, Nacional, p. A11

Relatório da comissão de senadores criada para acompanhar as investigações sobre o assassinato da missionária Dorothy Stang, no dia 12 de fevereiro passado, em Anapu, no Pará, levanta graves suspeitas sobre a atuação da Polícia Civil paraense no caso. Cheques e contratos para exploração de madeira, apreendidos pela polícia na residência do capataz Amair Feijoli da Cunha, o Tato, suposto intermediário do crime, o vinculam ao acusado de ser o mandante, o fazendeiro Vitalmiro Bastos Moura, o Bida, ainda foragido, e a outras dezenas de empresários e madeireiros da região. Além de cometer falhas na investigação, sobretudo ao desconsiderar a suposta existência de um consórcio de fazendeiros que teria encomendado o crime, a polícia também é acusada no relatório de 60 páginas de limitar seu inquérito apenas aos quatro envolvidos - Bida, Tato e os pistoleiros Rayfran das Neves Sales, o Fogoió, e Clodoaldo Carlos Batista, o Eduardo, que num primeiro momento decidiram assumir o crime sozinhos, mas depois recuaram, incriminando o fazendeiro e seu capataz.

Outra falha apontada pelos senadores: apesar de ter tantos nomes para investigar, os delegados não pediram a quebra do sigilo telefônico de ninguém, principalmente dos suspeitos. A senadora Ana Júlia (PT-PA), presidente da comissão, não economiza críticas às autoridades de seu estado, dizendo que na área da segurança pública os discursos foram contraditórios.

"Em muitos casos de conflitos agrários, elas foram coniventes com os fazendeiros, que agiam irregularmente", disse a senadora Ana Júlia. No relatório, previsto para ser votado na próxima terça-feira, os integrantes da comissão sugerem que o processo seja transferido para a Justiça Federal.

FAZENDEIRO

O fazendeiro Vitalmiro Moura, o Bida, segundo informou ontem seu advogado, Augusto Septímio, poderá se entregar a qualquer momento. Ele está foragido há 41 dias e foi intimado por edital a prestar depoimento na próxima terça-feira ao juiz Lucas do Carmo de Jesus, na comarca de Pacajá.

O advogado faz mistério se Bida irá se apresentar em Belém ou em Brasília. O fazendeiro mandou um emissário dizer a seu advogado que pretende evitar o "assédio da imprensa". Segundo Septímio, seu cliente não está escondido e exerce normalmente suas atividades empresariais.

"Ele (Bida) está numa cidade e anda normalmente pelas ruas, embora esteja psicologicamente abalado com o envolvimento de seu nome nesse crime", disse o advogado.