Título: Dívida de empresas cai R$ 20 bilhões
Autor: Renée Pereira
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2005, Economia, p. B1

O volume de endividamento das empresas de capital aberto caiu R$ 20,46 bilhões (13,7%) nos últimos dois anos, de R$ 149,23 bilhões para R$ 128,77 bilhões. Só no ano passado, a redução foi de R$ 11,9 bilhões - um reflexo dos resultados espetaculares registrados pelas companhias em 2004, com aumento de receitas, lucros e produtividade. Os números fazem parte de levantamento feito pela consultoria Economática e revelam melhora na saúde financeira de boa parte das 126 empresas incluídas no trabalho.

Um exemplo é o avanço da relação dívida bruta/lucro operacional próprio (antes dos juros e impostos), que mede a capacidade das companhias de honrar seus compromissos. Em 2002, esse índice estava em 27%, chegou a 35,6% em 2003 e saltou para 58,7% no ano passado.

Essa relação indica que, para cada R$ 100 de dívida, as empresas conseguiram R$ 58,7 de lucro operacional. 'É uma folga importante', analisa o presidente da Economática, Fernando Exel.

Com a retomada da atividade econômica, o fluxo de caixa das empresas melhorou e elas passaram a ter mais recursos para honrar dívidas. Algumas, porém, optaram pela reestruturação dos débitos, alongando vencimentos e negociando juros menores, afirma o presidente da consultoria Austin Rating, Erivelto Rodrigues.

Entre os setores que mais reduziram o endividamento em 2004 está o setor químico (23,11%), alimentos e bebidas (17,76%), siderurgia e metalurgia (15,09%) e têxtil (11,5%). No caso de siderurgia e metalurgia - cujo desempenho no ano passado foi um dos melhores da história, especialmente por causa da alta do preço do aço -, a dívida caiu de R$ 32,7 bilhões para R$ 27,8 bilhões.

Na Companhia Siderúrgica de Tubarão, o recuo foi de 37%, Acesita, 30,3%, e Usiminas, 29,7%.

Outra explicação para a redução do nível de dívidas está na desvalorização do dólar ante o real, já que boa parte dos débitos das empresas está em moeda estrangeira. Em 2002, com dólar em R$ 3,533, a participação dos débitos em moeda estrangeira era de 71,7%. No ano passado, com a queda do dólar para R$ 2,654, a participação caiu para 61,8%.

Mas essa redução não se deve apenas ao recuo do dólar, argumenta Exel. Segundo ele, a dívida estrangeira, em dólar, caiu 12,7% em 2004 comparado com igual período de 2003, de US$ 34,36 bilhões para US$ 29,99 bilhões. Segundo ele, os números em dólar não incluem a variação cambial no período, o que demonstra que as empresas quitaram débitos em moeda estrangeira.

O consultor da Global Invest, Márcio Bandeira, acrescenta ainda que a melhora do mercado interno, com dólar estável, juros menores em 2004 e retomada do crescimento, incentivou as empresas de capital aberto a trocar parte de suas dívidas em moeda estrangeira por moeda local. Segundo dados da Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid), as captações no mercado doméstico dobraram no ano passado, para R$ 21,5 bilhões, enquanto as emissões externas recuaram 38%, de US$ 23,74 para US$ 14,62.

Na avaliação de Rodrigues, esse movimento de troca deve continuar neste ano, especialmente no segundo semestre, se a taxa Selic retomar o ciclo de queda