Título: FMI: elogio e alerta ao Brasil
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2005, Economia, p. B3

A diretoria-executiva do Fundo Monetário Internacional (FMI) elogiou ontem o governo brasileiro pelos "impressionantes êxitos econômicos nos últimos dois anos". O comentário foi feito após a divulgação dos resultados da revisão do programa econômico brasileiro, completada no dia 21. E chega a seis dias do vencimento do acordo do Brasil com o Fundo, cuja renovação ou não o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, anuncia na semana que vem, provavelmente em Madri. Para a direção do Fundo, o governo Luiz Inácio Lula da Silva tem mantido políticas macroeconômicas "sólidas", que resultaram em avanços firmes nas reformas estruturais. Em um contexto internacional favorável, essas políticas permitiram ao Brasil "transformar significativamente a economia, com recuperação do nível de ingresso de capitais, do emprego e das reservas internacionais e redução do peso da dívida pública, comentou o FMI.

O Fundo adverte, porém, que o País segue vulnerável a mudanças nas condições financeiras globais, especialmente por causa da dívida pública, considerada alta.

De acordo com a instituição, para manter a expectativa de crescimento intenso no longo prazo, que o FMI considera fundamental para reduzir a pobreza e as desigualdades sociais, é necessário avançar mais na agenda de reformas estruturais.

Sobre política monetária, os diretores observaram que os sistemas de câmbio flutuante e metas de inflação têm funcionado bem. "A redução da inflação para dentro da meta 2004 foi um êxito substancial", disseram, acrescentando que os recentes aumentos da taxa de juros poderão moderar o ritmo da atividade e contribuir para baixar ainda mais a inflação.

Para a direção do FMI, a eficiência da política monetária poderia melhorar se for aprovada a total autonomia operacional do Banco Central.

Alguns aspectos da economia brasileira dividiram a opinião dos membros da diretoria do Fundo. Apesar de todos elogiarem os altos superávits primários nas contas públicas, uns recomendam um pouco mais de aperto fiscal para acelerar a redução da dívida. Outros consideraram que a meta de superávit fiscal primário para 2005 é "prudente" e oferece espaço para gastos sociais e na infra-estrutura.

O ministro Palocci participará, nos dias 31 e 1.º, em Madri, de um evento do Instituto de Finanças Internacionais (IIF), que congrega os principais bancos do mundo, do qual participará também o diretor-gerente do FMI, Rodrigo de Rato. A expectativa é que Palocci aproveite o encontro para anunciar se o Brasil renova ou não o acordo com o Fundo.