Título: BB quer vender mais ações para entrar no Novo Mercado
Autor: Vânia Cristino, Adriana Fernandes
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2005, Economia, p. B6

O governo quer ampliar a quantidade de ações do Banco do Brasil (BB) em poder do público, para que a instituição ingresse no chamado Novo Mercado da Bolsa de Valores de São Paulo. Uma das exigências para entrar nesse clube de empresas cuja administração segue parâmetros internacionais de qualidade e transparência é que pelo menos 25% das ações estejam girando no mercado. O banco, porém, está longe disso. Só 6,8% de seus papéis estão pulverizados; 72,1% estão em poder do Tesouro Nacional, situação que preocupa os técnicos. Para reverter a situação, o governo tem duas alternativas: vender o excedente de ações ou o BB fazer nova emissão primária de ações. "A possibilidade de venda (das ações) nunca deixou de ser estudada", disse um integrante da equipe econômica. "Estamos acompanhando o mercado para ver o timing da oferta." Segundo a fonte, o governo tem interesse em "melhorar a estrutura do capital do BB", o que significa, na prática, ampliar a quantidade de ações do banco negociada na bolsa. Quanto maior o número de ações negociadas, maior a liquidez do papel e mais segurança o investidor terá de que conseguirá vendê-las, a preço de mercado, quando precisar.

A União precisa de metade mais uma ação para manter o controle sobre o Banco do Brasil, portanto pode vender os aproximadamente 22% que ultrapassam esse limite. No final do governo Fernando Henrique Cardoso, o governo tentou vender esses papéis, mas a baixa procura levou ao cancelamento da operação.

Também não está descartada a alternativa de o BB fazer uma emissão primária de ações. "Estamos olhando várias possibilidades para ver qual é a melhor", disse a fonte. Não ainda há prazo definido para a operação, mas é certo que o governo não quer correr o risco de fazer esse movimento em ano eleitoral como 2006.

A concentração de ações do BB em poder do Tesouro ocorreu por causa de uma injeção de recursos feita em 1996, quando a instituição apresentou um "rombo" nas contas. Na época a União colocou R$ 7,5 bilhões no banco. Atualizado pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), esse valor chegava, em dezembro, a R$ 13,240 bilhões.

Em 2004, com o lucro recorde de R$ 3,024 bilhões, o Banco do Brasil conseguiu finalmente "empatar" a conta. O resultado financeiro acumulado pela instituição ao longo dos últimos 8 anos soma, em valores atualizados, R$ 14,450 bilhões - um pouco mais do que o "rombo" registrado em 1996.

Mesmo assim, a instituição continua custando caro ao contribuinte brasileiro. De todo o lucro acumulado no período, o total devolvido ao Tesouro Nacional a título de dividendos soma R$ 3 bilhões. Faltam, portanto, cerca de R$ 10 bilhões para "zerar" a conta.

Fontes do BB alegam, porém, que essa conta está praticamente paga porque o banco se valorizou muito no mesmo período. "Caso o Tesouro opte por vender as ações excedentes do controle, vai ficar com um bom dinheiro em caixa", observou um técnico.