Título: Nas ruas, nas filas, a difícil busca do benefício
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2005, Nacional, p. A4

A copeira Maria Neide de Assis Lopes tenta, aos 58 anos, receber um auxílio-doença da Previdência Social. Ela padece de hipertensão, bronquite e problemas na coluna que a impedem de trabalhar. Deu entrada ao pedido de auxílio em um posto da Previdência e anexou um laudo de um médico da saúde pública. "Fui fazer perícia, mas pediram para tirar outra carteira (de trabalho) porque o número está apagado", conta. Seus problemas apenas começavam. Ela alegou que tinha uma carteira do sindicato que continha seu número de inscrição e que tinha sido aceita quando deu entrada no processo. Não funcionou: quando voltou ao posto, não conseguir fazer a perícia. "A funcionária disse que não achou minha ficha e ficou por isso mesmo", explica Maria Neide, que mora de favor na casa de uma família. Seu caso é um bom exemplo da burocracia que impede um atendimento rápido a casos emergenciais.

Aos 27 anos, Ricardo Leitão sofre de paralisia cerebral e não tem condições de se cuidar sozinho. A mãe, Erotildes Rodrigues Leitão, de 52 anos, é faxineira para sustentá-lo. Ela chegou a receber por alguns meses o benefício da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas), que foi criada para garantir benefícios a idosos de mais de 65 anos e que sustentem portadores de deficiência.

Recebia porque um advogado amigo conseguiu uma liminar da Justiça, que foi suspensa depois da visita de uma assistente social. "Ela disse que a minha casa estava muito limpa", conta. Em sua expressão humilde ela não consegue traduzir que perdeu o benefício porque declarou, além de seu ganho modesto como faxineira, uma pensão de um salário mínimo. A Loas não atende a quem tem renda pessoal acima de R$ 65,00.

Maria Nilza de Jesus Silva, de 46 anos, mãe de Rogério, 12 anos, portador de problemas neurológicos, descobriu que o filho tem direito ao auxílio-doença ao conversar com uma médica neurologista do Hospital das Clínicas. Maria Nilza entrou com o pedido de auxílio pela Loas e espera uma visita da assistência social da Previdência, prometida para março. Enquanto o auxílio não vem, a mãe de oito filhos, trabalha com o marido vendendo temperos na feira livre e depende da solidariedade dos amigos.