Título: Rio terá mutirão contra filas para cirurgia
Autor: Alexandre Rodrigues e Nilson Brandão Junior
Fonte: O Estado de São Paulo, 25/03/2005, Nacional, p. A9

Reforçado o atendimento nas emergências, a coordenação da intervenção federal no sistema de saúde do Rio quer diminuir a fila de 14 mil pessoas que aguardam cirurgias nas unidades municipais. O Ministério da Saúde prepara edital para convidar instituições públicas e privadas a participar de mutirão de cirurgias. O ministro Humberto Costa, que fez ontem no Rio um balanço da intervenção, disse que vai pedir ao governo do Estado do Rio para reforçar o atendimento básico de saúde, negligenciado pela prefeitura na opinião dele, para desafogar as emergências, ainda superlotadas. "Não vamos conseguir resolver os problemas das filas se não tivermos a ampliação da atenção básica", disse o ministro. "Sem semear ilusões para a população, sabemos que solução definitiva exige reestruturação global do sistema municipal e o trabalho com prefeitos da Baixada Fluminense."

Costa afastou a hipótese de requisitar outras unidades da prefeitura ou atuar na rede básica de postos de saúde. "O ministério já está extrapolando suas funções", observou. No entanto, o ministro disse que pediu ao governo estadual que faça investimentos no atendimento ambulatorial e em ações preventivas como o Programa de Saúde da Família (PSF) - como fez o governo do Estado de São Paulo, que criou programa de atenção básica, o Qualis, na época em que a Prefeitura paulistana abriu mão da verba do SUS e criou o PAS, sob o comando de Paulo Maluf.

O ministro afirmou mais uma vez que está disposto a dialogar com a prefeitura do Rio para incentivar o reforço do atendimento básico e ampliar o PSF. Mas a disputa judicial entre os governos municipal e federal teve mais um capítulo na noite de anteontem. Liminar da Justiça Federal determinou que a prefeitura mantenha a Guarda Municipal no Campo de Santana, no centro, onde a Marinha monta hospital de campanha. Por determinação do prefeito Cesar Maia, seis guardas do parque seriam retirados hoje. Em sua decisão, o juiz Dario Ribeiro Machado Júnior argumenta que a suspensão da guarda "mascara o velado intuito de tumultuar o futuro atendimento pelo referido hospital".

Costa também visitou ontem o hospital de campanha da Aeronáutica, na Barra da Tijuca (Zona Oeste), e o da Marinha, que começa a atender segunda-feira. "Identificamos a enorme gravidade do sistema municipal de saúde. É como se enxugássemos gelo. O hospital de campanha é exemplo disso. Era para minimizar e passou a ter filas como se só ele funcionasse na cidade", advertiu.

O ministro fez balanço das duas semanas de intervenção. Foram abertos 276 leitos. No mutirão de cirurgias do primeiro fim semana houve 46 operações em um só dia e outras 150 feitas até agora. O ministro determinou aos gestores das unidades federais e sob intervenção que alcancem 3 mil atendimentos diários.