Título: Cai o último recurso e Terri fica sem sonda
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/03/2005, Vida &, p. A12

Duas novas derrotas judiciais praticamente esgotaram ontem as alternativas legais dos pais de Terri Schiavo, Mary e Bob Schindler, para conseguir a volta da alimentação artificial por sonda de sua filha de 41 anos, que vive há 15 em estado vegetativo irreversível numa casa para doentes terminais em Pinellas Park, Flórida. Pela manhã, a Suprema Corte recusou-se a ouvir o recurso apresentado pelos Schindler, sem dar explicações, repetindo atitude que já tomara anteriormente em relação ao caso. No início da tarde, o juiz George Greer, de Pinellas Park, rejeitou uma moção do governador da Flórida, Jeb Bush, irmão do presidente americano, para que a custódia legal da paciente fosse transferida para o serviço estadual de proteção à criação e família. Um dia antes ele havia proibido expressamente essa agência estadual de religar a sonda e instruído a polícia local de fazer valer essa determinação. Greer preside o processo há anos. Na sexta-feira, ele deu a ordem para que a sonda que sustenta a vida vegetativa de Terri fosse desligada. Sem ela, sua morte física é uma questão de dias.

Os advogados dos pais já prepararam uma nova ação na Justiça Federal da Flórida, mas especialistas afirmam que este último esforço dificilmente mudará a decisão da Suprema Corte. O caso arrasta-se há mais de sete anos, numa disputa irreconciliável entre Michael Schiavo, o marido e guardião legal de Terri, segundo o qual a mulher não gostaria de viver no estado em que está, e os Schindler, que contestam o diagnóstico médico da filha e afirmam que ela pode se recuperar. Segundo George Felos, advogado de Michael, ele tem passado a maior parte do tempo com Terri. Pais, irmãos e outras pessoas próximas podem vê-la em visitas supervisionadas.

"Isso não é mais sobre Terri", disse Scott Schiavo, irmão de Michael. "Isso tem agora uma dimensão política. Eles (os republicanos) estão sendo pressionados por grupos antiaborto, que lhes dizem: se vocês não nos seguirem, não terão nossos votos."

A extraordinária intervenção do Congresso no fim de semana, que resultou na aprovação de uma lei provavelmente inconstitucional transferindo o caso para o âmbito da Justiça Federal , aconteceu depois que os líderes conservadores no Senado circularam um documento sugerindo que o Partido Republicano só tinha a ganhar com a politização do episódio. Pesquisas de opinião divulgadas nos últimos dias indicaram que o cálculo estava errado - mais de dois terços dos eleitores condenaram a interferência no Congresso - e que a direita religiosa, que representa apenas pouco mais de 20% do eleitorado, pode ter superestimado sua influência.

Terri sofreu dano cerebral em 1990 numa parada cardíaca provocada por perda de potássio, derivada provavelmente de um regime alimentar. Na quarta-feira, Jeb Bush anunciou que o neurologista William Cheshire, que não examinou Terri, discordava do diagnóstico. Ontem, contudo, as agências de notícia revelaram que Cheshire é membro ativo de organizações cristãs, incluindo duas cujos líderes se pronunciaram contra a remoção da sonda. Ronald Cranford, neurologista da Universidade de Minnesota e um dos que examinou Terri, disse ontem que "não há nenhum neurologista com credibilidade no mundo que não concluirá que o estado dela é vegetativo".