Título: EUA rejeitam diálogo direto com Pyongyang
Autor: Paulo SoteroCorrespondente
Fonte: O Estado de São Paulo, 12/02/2005, Internacional, p. A15

Casa Branca sustenta que questão nuclear não é bilateral, mas sim regional, o que afeta todos os vizinhos da Coréia do Norte WASHINGTON - Os Estados Unidos rejeitaram ontem conversações diretas com a Coréia do Norte sobre o programa nuclear do país e insistiram na exigência de que o governo de Pyongyang retorne às negociações sobre desarmamento, paradas desde junho do ano passado, que incluem também a China, Coréia do Sul, Japão e Rússia. "Não é uma questão entre a Coréia do Norte e os Estados Unidos", disse o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan. "Trata-se de uma questão regional, que afeta a todos os vizinhos (da Coréia do Norte)", acrescentou.

O porta-voz respondia à demanda de conversações diretas com Washington feitas pelo embaixador da Coréia do Norte nas Nações Unidas, Han Sung-ryol, em entrevista publicada pelo jornal Hankyoreh, de Seul, um dia depois de seu governo ter confirmado que possui armas nucleares e afirmado que as desenvolveu para se prevenir contra a política clara da administração americana do presidente George W. Bush "para isolar e sufocar" o país.

"Voltaremos às conversações com as seis nações quando virmos uma razão para isso e as condições estiverem maduras", afirmou o representante norte-coreano. "Se os Estados Unidos aceitarem conversações diretas conosco, podemos tomar isso como sinal de que os EUA estão mudando suas políticas hostis a nós."

"A resistência de Washington em manter negociações diretas com a Coréia do Norte pode ser interpretada como um sinal de que os EUA não nos reconhecem e buscam destruir nosso governo", afirmou Han.

Embora a declaração do governo norte-coreano tenha sido interpretado pelos especialistas em desarmamento em Washington como um desdobramento que reforça a posição do setor mais duro da administração Bush, a reação oficial americana tendeu, até agora, a minimizar o significado do gesto de Pyongyang.

Três fatores podem explicar a atitude americana. O primeiro, e mais óbvio, é a necessidade de Washington de buscar uma saída diplomática, diante da falta de uma opção militar para resolver o problema. A declaração de McClellan, na realidade, deixou aberta a porta para a retomada de contatos bilaterais no contexto das negociações do grupo de seis países.

Além disso, o anúncio dos norte-coreanos não foi propriamente uma novidade para a administração Bush, mas apenas uma confirmação de informação que negociadores do país deram a representantes americanos em abril de 2003, em contatos bilaterais à margem de uma reunião do grupo dos seis países, em Pequim.

A propósito, o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, um dos duros da administração, disse que lamentava o anúncio "do ponto de vista da não-proliferação", mas pôs em dúvida a veracidade da declaração.

Outro fator que entra nos cálculos de Washington é a possibilidade de o governo de Kim Jong-il estar fazendo um jogo retórico na esperança de melhorar sua posição de barganha antes da retomada das conversações das seis partes, programadas em princípio para o segundo semestre (ler mais na página A16).

Significativamente, Washington não mencionou a hipótese de levar o caso ao Conselho de Segurança das Nações Unidas, como já fez no caso do Irã, que, segundo as estimativas oficiais americanas, não possui a bomba.

Ontem, McClellan reiterou a denúncia americana da violação pela Coréia do Norte dos acordos que firmou com a administração de Bill Clinton, que previam o congelamento e mais negociações com o objetivo de desarmar o país. Mas sublinhou que a administração Bush quer o entendimento e considera a negociação regional como "o caminho para resolver a questão pela via diplomática e pacífica".

O porta-voz disse que "todos os países da região estão dizendo à Coréia do Norte que eles precisam voltar à mesa de negociações de forma a conversarmos sobre a proposta que pusemos na mesa na última rodada". Segundo ele, a proposta americana "trata das preocupações de todas as partes interessada e oferece uma maneira de ir adiante e resolver esse assunto".